A violência simbólica
Um fenômeno social complexo

Hoje, a violência no ambiente escolar é uma realidade visível, que invade subjetiva e objetivamente a vida de todos, interferindo nos desejos, nas ações e nas opções individuais quanto institucionais. Trata-se de um fenômeno social complexo devido aos inúmeros tipos existentes e de suas manifestações.
Dentre os diversos tipos, destaco a “violência simbólica”, um conceito cunhado pelo proeminente sociólogo francês do século XX Pierre Bourdieu (1989): “são aqueles atos de coerção, constrangimento e opressão dirigidos à honra, à dignidade e ao reconhecimento da pessoa”. Ele descreve um tipo de “violência não-física”, ou um método de desmoralização, que se manifesta no diferencial de poder entre grupos sociais.
Por exemplo, no ambiente escolar, a violência simbólica ocorre quando o aluno é excluído por não se enquadrar nos padrões impostos pela instituição educacional. Deixando-o às margens do processo, o que, posteriormente, o levará ao desestímulo e, finalmente, à exclusão.
Em muitos casos, os atos de coerção ou desonra se constituem numa dupla violência simbólica: por um lado, são direcionados àqueles considerados “diferentes” e, por outro, os levam a compreender, erroneamente, a violência como sendo parte de uma normalidade estabelecida no convívio social pelos grupos dominantes.
Esse tipo de situação implica numa cumplicidade tácita, na maioria das vezes inconsciente, entre aquele que exerce e aquele que sofre a coerção, legitimando, portanto, a prática de violência simbólica. Onde, em muitas situações, o sujeito vítima da violência simbólica pode não perceber a situação como sendo desonrosa, cruel e maléfica.
A violência simbólica se funda na elaboração contínua de crenças, ações e valores no processo de socialização, que induzem o indivíduo a se posicionar no espaço social seguindo critérios e padrões do discurso dominante. Pois, a função política da violência simbólica é a de impor ou de legitimar a dominação, assegurando o controle hegemônico de uma classe sobre a outra.
A violência simbólica tem o poder de impor significações como legítimas, para dissimular as relações de força que estão na base de sua atuação através de diversas formas de agressão física, que podem resultar na morte do indivíduo por suicídio, ou causar mutilações por meio da depredação do patrimônio público, conduzindo ao esvaziamento dos espaços de convívio social.
Para Bourdieu (1989), a violência simbólica ou método de desmoralização é um tipo de coação que não se utiliza de força física, que se investe contra o indivíduo de forma tão ou mais cruel ao objetivar a imposição de poder por via moral ou psicológica. No ambiente escolar, a ação pedagógica se realiza através de "uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de um arbitrário cultural”.
Por exemplo, no Brasil, uma forma de violência simbólica está no uso dos estereótipos com relação aos negros. Para o sociólogo jamaicano Stuart Hall, a estereotipagem é parte da conservação da ordem social e simbólica, que se impõe a ponto de ser naturalizada. Assim, a violência simbólica induz os indivíduos a se comportarem no espaço social orientando-se pelos critérios e padrões do discurso dominante.
Portanto, a violência simbólica se estabelece com o consentimento, muitas vezes inconsciente, de quem a sofre. Pois, a classe dominante atua de forma silenciosa impondo os seus valores sobre a classe dominada, operando formas de agir, pensar e sentir para realizar os seus interesses. Onde a sua legitimação num contexto escolar plural e multifacetado, desvaloriza, anula e nega as diversidades - físicos, étnicas, intelectuais, sociais etc.
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