Arnaldo Eugênio

O cientista e o assescla

O papel do cientista político na eleição e a reação emocional dos asseclas diante dos resultados eleitorais


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O cientista e o assescla

No Brasil, durante o período das eleições municipais, é comum políticos profissionais, e até políticos estreantes, contratarem cientistas políticos para fortalecer a campanha eleitoral, como profissional a realizar pesquisas, planos, sistematizações e análises de dados, dentro de recortes pontuais e locais.

Porém, a depender do resultado local, principalmente se negativo, surge um fato não-político improvável: a culpabilização do cientista político pela derrota por parte de asseclas políticos – uma devoção mais intensa e muitas vezes incondicional, similar a um adepto ou sectário, que move-se pela emoção.

Se o candidato perde a eleição, o cientista político é demonizado como o vilã improvável ou o bode expiatório, e os asseclas se enchem de “saberes” de senso comum. Mas, se o candidato ganha a eleição, o cientista político é ignorado e os asseclas se inflam de um falso “poder político”, mesmo sem capital eleitoral, além do próprio voto fugaz.

Talvez, isso aconteça devido à ignorância dos asseclas sobre o que é política, o papel do cientista político, o fato político, o comportamento do eleitor, as variáveis quantitativas e qualitativas, que podem ser internas ou externas ao sistema político. De fato, são conceitos políticos distantes de opiniões, de achismos e da superficialidade, que molda a percepção de senso comum.

Para Maquiavel, em sua obra "O Príncipe", a política é a arte de adquirir, manter e expandir o poder, onde o sucesso do governante depende mais da sua habilidade em lidar com a realidade do que de princípios morais tradicionais.

Nesse sentido, o cientista político desempenha um papel crucial na análise e compreensão dos fenômenos políticos, sociais e econômicos, por meio de métodos científicos para estudar o poder, o contexto local e o comportamento eleitoral. Enquanto o assecla político faz o papel singular de “obreiro apaixonado” em múltiplas tarefas simplórias – que, em alguns casos, ajudam na campanha.

Porém, mesmo com papéis bem distintos, nenhum deles pode, por si só, ser o herói da vitória ou o culpado pela derrota do candidato numa eleição. Pois, a política não é uma ciência exata, mas uma ciência social dinâmica e complexa. Mesmo que o cientista político tenha mais elementos confiáveis para predizer o resultado de uma eleição do que o conhecimento popular do assecla. 

Para Vilfredo Pareto, a política é vista como uma esfera onde as elites exercem poder e manipulam a sociedade, em geral, de forma inconsciente, através da circulação de elites e da utilização de ideologias – e isso é uma compreensão trabalhosa para o assecla político digerir só por meio de achismos de pós-eleição.

 Ou seja, o cientista é ciente da importância da distinção entre a ação política racional e a ação política não-racional, onde a primeira é baseada em cálculos de interesse e a segunda em crenças e emoções. Já o senso comum do assecla se regozija com o canto da sereia, tanto na vitória quanto na derrota.

Portanto, o empirismo do assecla é útil, mas é uma tolice a culpabilização do cientista pelo resultado negativo de uma eleição. Primeiro, porque não existe um parâmetro confiável que dê conta do disparate de funções e de percepções da política em ambos. Segundo, o cientista político analisa e interpreta os dados e os fatos políticos com ciência; já o assecla supõe e sopra teorias de bode expiatório, baseadas em paixões e disse-me-disse, para explicar fenômenos políticos de natureza complexa, além da obviedade.

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