"Pacientes paraplégicos voltaram a caminhar com interface cérebro-máquina", afirma Miguel Nicolelis
Neurocientista relata avanços em pesquisa clínica realizada na China e destaca o impacto da neurotecnologia na medicina

Em entrevista ao Brasil 247, o neurocientista Miguel Nicolelis compartilhou os avanços de sua pesquisa sobre interfaces cérebro-máquina, realizada em parceria com um dos maiores hospitais de neurologia da China. Segundo ele, um estudo clínico recente obteve resultados surpreendentes na recuperação de pacientes paraplégicos. "Acabamos de concluir um estudo clínico que estamos preparando para publicação, e os resultados foram incríveis. Pacientes com paraplegia grave, alguns há 20 anos sem movimento, conseguiram voltar a andar sozinhos, apenas com um andador, sem o auxílio de exoesqueleto", afirmou.
Nicolelis também comentou sobre a repercussão do estudo na China antes mesmo de sua publicação oficial. Ele destacou que os avanços chamaram a atenção tanto do governo quanto da comunidade científica chinesa, o que culminou em um importante prêmio de ciência concedido ao cientista no país asiático. "Foi um evento impressionante. Nunca vi algo assim, fui tratado como um jogador de futebol no Brasil. O reconhecimento à ciência na China é algo que não se compara ao que vemos em outros países", relatou.
O neurocientista também falou sobre sua experiência ao participar da cerimônia de premiação no parlamento chinês, onde teve a oportunidade de conversar diretamente com o primeiro-ministro e o chanceler do país sobre o futuro da neurotecnologia. "Eles queriam entender como pacientes puderam recuperar movimentos após tanto tempo. Me perguntaram sobre o mecanismo de ação das interfaces cérebro-máquina e como essa tecnologia pode transformar a medicina no futuro", explicou.
Nicolelis enfatizou o planejamento estratégico da China na área científica e sugeriu que o Brasil poderia explorar parcerias mais profundas com o país. "Expliquei que o Brasil tem uma das maiores infraestruturas universitárias públicas do mundo, mas não recebe o apoio necessário. Poderíamos ter grandes projetos de pesquisa conjuntos com a China, mas falta uma estratégia real para isso", afirmou.
A pesquisa liderada por Nicolelis destaca o potencial da neurociência na recuperação de funções motoras e abre caminho para novas abordagens no tratamento de doenças neurológicas. O estudo clínico deve ser publicado em breve, trazendo mais detalhes sobre os avanços obtidos.
Deixe sua opinião: