Ceará sem internet: facção criminosa ataca empresas e pratica extorsão
Polícia já prende suspeitos

Empresas provedoras de internet no Ceará estão suspendendo suas atividades em diversas regiões do estado após uma série de ataques promovidos por uma facção criminosa. As ações violentas incluem desde o corte deliberado de cabos de internet até incêndios em veículos e disparos contra sedes das companhias.
Até o momento, foram registrados pelo menos oito ataques nas cidades de Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarante e Caridade — sendo seis deles somente na última semana. Ao menos quatro empresas do setor foram diretamente afetadas, gerando um clima de insegurança entre os trabalhadores, que relatam temor diante do cenário de violência.
Na noite da última segunda-feira (10), a empresa Acnet teve sua sede alvejada por tiros no bairro Itambé, em Caucaia. No dia seguinte, a companhia anunciou a suspensão temporária das visitas técnicas como medida de segurança. Também na terça-feira (11), a Brisanet — operadora que atua em mais de 200 cidades do Nordeste — foi alvo de ataques: criminosos arremessaram pedras contra um veículo da empresa no bairro Capuan, também em Caucaia. No início do mês, outro carro da companhia foi incendiado no Conjunto Metropolitano.
A Brisanet afirmou que os ataques comprometem a continuidade dos serviços prestados e informou estar adotando protocolos de segurança para proteger funcionários e equipamentos, sem divulgar detalhes por questões estratégicas.
Em Caridade, diante da escalada da violência, empresas do setor optaram por paralisar completamente as atividades e suspender o fornecimento de internet em todo o município à meia-noite de terça-feira (11), em forma de protesto. Ainda não há previsão para a retomada dos serviços.
A Secretaria da Segurança Pública do Ceará informou que investiga a atuação dos grupos criminosos e, no último sábado (9), o governo estadual criou um grupo especial para conduzir as investigações.
Prejuízo milionário
Além dos impactos operacionais, os ataques já provocaram um prejuízo estimado em mais de R$ 1 milhão para o setor, segundo fontes ouvidas sob condição de anonimato por temerem retaliações. Só em Caridade, onde cabos e caixas de internet foram destruídos na última sexta-feira (7), cerca de 90% da população ficou sem acesso à rede. Estima-se que os danos na região superem R$ 500 mil, considerando reposição de materiais, custos com mão de obra e cancelamentos de contratos.
Extorsão e ameaças a trabalhadores
Técnicos e prestadores de serviço relatam que vêm sendo abordados por criminosos durante atendimentos em campo. De acordo com um profissional ouvido pela reportagem, os grupos impõem condições para que as empresas possam atuar em determinadas áreas.
"Os técnicos são abordados na rua e ouvem que só podem atender empresas que pagam uma mensalidade à facção. Caso contrário, os veículos são incendiados, os equipamentos roubados e os estabelecimentos atacados", relata o trabalhador.
Segundo denúncias, a facção estaria cobrando uma espécie de “pedágio” equivalente a 50% do valor dos serviços prestados pelas provedoras para autorizar a instalação de infraestrutura em comunidades. A prática, que teve início no bairro Pirambu, em Fortaleza, já teria se expandido para outras localidades, como Caucaia, São Gonçalo do Amarante e Caridade.
Informações indicam que as empresas são obrigadas a repassar metade do valor pago pelos clientes — por exemplo, R$ 40 de uma instalação de R$ 80 — como uma "taxa de permissão" imposta pela facção.
Polícia prende suspeitos de ataques a empresas de internet no Ceará
A Polícia Civil do Ceará cumpriu 10 mandados de prisão e apreendeu três armas de fogo na "Operação Strike", até às 06h30, desta quarta-feira (12). A ação contra grupos criminosos que vêm atacando empresas provedoras de internet no estado segue andamento,
Estão sendo cumpridos mandados de prisão e de busca e apreensão em Fortaleza e em outros municípios do Ceará.
A operação conta com o apoio das Coordenadorias de Inteligência (Coin) e Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) da SSPDS.
Grupo de investigação
A ação policial parte de um conjunto de ações desenvolvidas pelo grupo especial de investigação, criado no último sábado (8), pelo governador Elmano de Freitas, para investigar, identificar e prender os autores dos crimes contra empresas provedoras de Internet no estado.
Mais detalhes serão repassados em coletiva de imprensa, às 11 horas, na sede da Polícia Civil, no Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp).
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