Não é a comunicação do governo que precisa mudar — é a do PT!
A comunicação do Partido dos Trabalhadores ainda opera, em muitos casos, com a lógica da divulgação fria

Por Jean Volpato, jornalista e vereador de Blumenau (SC), no 247
Há um erro recorrente nas análises sobre os desafios da esquerda no ambiente digital: a ideia de que é o governo quem precisa melhorar sua comunicação para vencer a guerra de narrativas. Essa visão desvia o foco do verdadeiro problema. A comunicação institucional tem um papel claro: informar, prestar contas, agir com moderação e responsabilidade. Não é ela — nem pode ser — a linha de frente na disputa simbólica, emocional e política que acontece nas redes. Quem deve assumir esse papel é o partido.
A comunicação do Partido dos Trabalhadores ainda opera, em muitos casos, com a lógica da divulgação fria: publica notas, compartilha agendas, narra eventos, como se sua função fosse a de um jornal comercial ou de uma assessoria de imprensa. Mas comunicação política não é prestação de contas — é mobilização. Não é apenas contar o que aconteceu — é convocar para o que precisa acontecer.
Essa limitação não é teórica. Ela tem impacto direto na nossa capacidade de disputa. Comunicação política é disputa de sentidos. É narrativa, emoção, engajamento e ação. Quando o PT reduz sua comunicação a um canal de informes, mata sua potência transformadora e cede o terreno digital para os que sabem ativar gatilhos mentais, provocar indignação e movimentar sentimentos.
O mais grave é que, mesmo diante desse erro estratégico, temos provas de que outro caminho é possível, viável e dá resultado. Quando assumimos a comunicação política de lideranças como os ex-deputados Décio Lima e Marco Maia, partimos de bases muito modestas: cerca de 5 mil seguidores. Em pouco tempo, com estratégia, linguagem popular e direcionamento emocional, ambos superaram a marca de 1 milhão de seguidores em suas redes.
Mais do que números, os conteúdos dessas lideranças passaram a liderar os rankings nacionais de performance digital, como o da FSB Comunicação, superando inclusive nomes da extrema direita. Mostramos na prática que é possível vencer a desinformação com organização, linguagem política, coragem e método.
Essa experiência precisa deixar de ser exceção e se tornar regra. O PT tem o solo mais fértil do mundo para construir a melhor comunicação de esquerda: estamos presentes em quase todos os municípios, temos milhares de diretórios e mandatos, uma militância vibrante, juventudes, coletivos, movimentos sociais e redes vivas. O que falta não é base, mas comando político, organização e direcionamento.
Na comunicação política, mais importante do que publicar é organizar e orientar. A base precisa saber o que dizer, como dizer e para quem dizer. É preciso descentralizar a criação, formar redes de mobilizadores digitais e dar protagonismo aos territórios. Não é sobre uma postagem por dia — é sobre construir uma estratégia nacional de comunicação militante, que una conteúdo, ação política e presença digital.
Se queremos enfrentar a nova extrema direita, precisamos abandonar a ideia de que basta informar. É hora de comunicar com alma, com coragem e com um projeto de país pulsando em cada frase. Isso só será possível com um PT reorganizado para a era digital, onde a comunicação seja parte central da disputa política — não um apêndice técnico ou institucional.
Porque, no fim das contas, não é o governo que precisa mudar sua comunicação. É o PT. E a boa notícia é que já provamos que dá certo. Agora só falta fazer — em escala nacional.
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