Manifestações esvaziadas e fissuras no campo político: é Bolsonaro nas ruas de novo
O ato marcado para as 14h deste domingo (28/6) testará o poder de mobilização dos bolsonaristas na Avenida Paulista, em São Paulo

Neste domingo (29), Jair Bolsonaro (PL) convoca pela sexta vez desde que deixou a Presidência da República uma manifestação nacional para apoiadores — desta vez, novamente na Avenida Paulista. O ato, batizado de “Justiça Já”, será mais do que um termômetro de mobilização: testará o grau de fidelidade dos aliados do ex-presidente no momento em que avança no Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento sobre a suposta trama golpista que teria sido liderada por ele.
Na véspera do ato, Bolsonaro participou de uma live com o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que apresentou gráficos e números para embasar o discurso recorrente de que o ex-presidente é alvo de perseguição judicial. A narrativa de vitimização tem ganhado força entre os aliados do PL, que prometem uma retórica dura contra o STF no palanque. O tom das falas, segundo anteciparam parlamentares como Luciano Zucco (PL-RS) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), será de ataque à Corte e à decisão recente que declarou inconstitucional o artigo 19 do Marco Civil da Internet — norma que blindava as big techs da responsabilização por conteúdo publicado nas plataformas.
Entre os confirmados para discursar estão nomes de peso do bolsonarismo: Michelle Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, Nikolas Ferreira, Magno Malta, Bia Kicis, Marco Feliciano, Gustavo Gayer, e o próprio Bolsonaro, além do organizador do ato, pastor Silas Malafaia. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também subirá ao palanque — e será o único governador a discursar. Romeu Zema (Novo), Jorginho Mello (PL-SC) e Cláudio Castro (PL-RJ) também confirmaram presença, mas sem garantias de fala. “Zema falará se quiser”, afirmou Malafaia, em tom que sugere cobrança por lealdade.
Se por um lado a mobilização nas redes é intensa, por outro, os números de público nas ruas indicam desgaste. Dados do Monitor do Debate Político do Cebrap-USP mostram queda acentuada na adesão: dos 185 mil participantes na Paulista em fevereiro de 2023 para 44,9 mil no último ato, em abril deste ano — redução de 75%. Em outros protestos recentes, como no Rio (março) e Copacabana (abril), a presença ficou abaixo de 35 mil.
O esvaziamento das manifestações vem acompanhado de fissuras no campo político. Apenas quatro governadores comparecerão neste domingo, contra sete que estiveram ao lado de Bolsonaro em abril. Internamente, há movimentações de partidos como PP, União Brasil, PSD e MDB para construir uma alternativa eleitoral à direita — e o nome de Tarcísio de Freitas é considerado viável para 2026, mesmo sem o aval do ex-presidente.
O avanço dessas articulações incomoda o entorno bolsonarista, que vê nelas uma tentativa de minar a influência de Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro já rotulou Tarcísio como integrante da “direita permitida”, e há resistência em abrir mão da candidatura mesmo diante da inelegibilidade. Uma possível alternativa passa por nomes da família: Eduardo, Flávio ou Michelle.
Ainda assim, os materiais de divulgação dos atos mantêm o foco em Bolsonaro, e não em Tarcísio. Nos bastidores, o governador tem evitado se apresentar como presidenciável e reafirma que seu candidato é o ex-presidente. Mas entre líderes de centro e da direita tradicional, seu nome já desponta como possível ponte entre o bolsonarismo e o centrão — um movimento que Bolsonaro, apesar das aparências, ainda tenta conter.
Deixe sua opinião: