Pensar Piauí

Sob a complacência do Estado, continua a matança indígena

Ataque de ruralistas mata indígena da etnia Pataxó Hã-hã-hãe no Sul da Bahia

Foto: ReproduçãoFazendeiros e Maria Fátima Muniz de Andrade
Fazendeiros e Maria Fátima Muniz de Andrade

Um ataque de ruralistas provocou a morte de uma indígena da etnia Pataxó Hã-hã-hãe na região Sul da Bahia, no domingo (21). O crime ocorreu no município de Potiraguá, no território indígena Caramuru-Catarina Paraguassu.

Dois fazendeiros foram presos em flagrante por porte ilegal de arma, suspeitos de matar a tiros a indígena Maria Fátima Muniz de Andrade, conhecida como Nega Pataxó, majé (feminino de pajé) da comunidade.

Ontem, o pensarpiauí mostrou matéria sobre a exterminação de indígenas quando da invação portuguesa no Brasil. Aqui: Em 20/01/1567, as praias do Rio de Janeiro ficaram tingidas de sangue indígena

No ataque, o cacique Nailton Muniz Pataxó também foi baleado, atingido com um bala no rim e submetido a cirurgia. Uma mulher indígena teve o braço quebrado e outras pessoas foram hospitalizadas, mas não correm risco de morte.

Cerca de 200 ruralistas da região se organizaram através de um aplicativo de mensagens, de acordo com nota do MPI. Estes fazendeiros e comerciantes se organizaram para recuperar, sem decisão judicial, a posse da Fazenda Inhuma, retomada por indígenas no último sábado (20).

Conforme a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), o ataque foi promovido por um grupo que denomina 'Movimento Invasão Zero'. A secretaria também determinou o reforço, por tempo indeterminado, do patrulhamento ostensivo na região, que fica próximo a cidade de Itapetinga e Pau Brasil.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) lançou nota condenando o ataque e frisando a importância da demarcação de terras indígenas como forma de solucionar o crescente conflito de terras no país.

"A retomada da fazenda de seu Américo, no território Caramuru, iniciou na madrugada do último sábado (20). A região enfrenta os desmandos de fazendeiros invasores que se dizem proprietários das terras tradicionais e acusam o povo de ser 'falso índio'. A aprovação do marco temporal acentua a intransigência dos invasores, que se sentem autorizados a praticar todo tipo de violência contra as pessoas.", sustenta a associação indígena.

Além dos fazendeiros detidos, um indígena que portava uma arma artesanal também foi preso.

Escalada da violência

Em dezembro, o cacique Lucas Santos Oliveira, de 31 anos, do povo Pataxó Hã-hã-hãe, foi assassinado quando retornava da cidade de Pau Brasil (BA), no extremo sul, para a aldeia Caramuru Catarina Paraguassu. No mês de junho, outro indígena Pataxó, que não teve a identidade revelada, também foi alvo de ataque no território indígena Barra Velha, em Porto Seguro (BA). 

Desde o início dos anos 2000, os Pataxó realizaram várias ações de retomada dessas áreas. De 2009 para cá, ruralistas ingressaram com diversos processos no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e no Superior Tribunal Federal (STF) contra a demarcação do território. Os processos se baseiam na tese do marco temporal.

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