Pensar Piauí

O Brasil está se "interiorizando"

É a opinião do sociólogo Rudá Ricci sobre o Censo 2022

Por Rudá Ricci, sociólogo, no twitter 

Os dados surpreenderam até os ETs de Marte. A população brasileira cresceu pouco. Segundo o IBGE, somos 203 milhões, muito longe das previsões que sugeriam entre 207 e 210 milhões. As famílias também encolheram. Na década de 2030, começaremos a diminuir o número de brasileiros

O gráfico que ilustra este post indica a queda brusca da taxa de crescimento no Brasil. Alguns analistas afirmam que se trata do impacto da pandemia do Covid19; outros, que seria reflexo da pesquisa truncada e sem recursos. Há como confirmar se houve algum desvio.

Foto: Divulgação

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O mais importante dos dados divulgados tem relação com o crescimento do interior do país. Muitas capitais começaram a esvaziar: a concentração urbana no interior foi o dobro que a das capitais. O Brasil está se "interiorizando"

Foto: Divulgação

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O que gostaria de sugerir como uma hipótese de análise do impacto político-social é que o agronegócio vai se alastrando pelo país afora, alimentando o conservadorismo e a dependência econômica de municípios pequenos

A paisagem bucólica de cidadezinhas pequenas e/ou rurais vai dando lugar aos fluxos migratórios de gente que vem dos grandes centros urbanos. O impacto é enorme, a começar pelo valor dos imóveis e demanda por serviços públicos. Este é o movimento que pode alimentar a xenofobia

A "interiorização" do país, na minha leitura, pode aumentar o conservadorismo e até mesmo o racismo contra os "estrangeiros". Algo que ocorreu recentemente na Europa. E o voto pode traduzir esta tendência.

A possibilidade de evitar esta tendência conservadora com reação aos processos migratórios e ao domínio do agronegócio é um novo ciclo produtivo, apoiado em pequenos negócios no interior e em investimentos em novas tecnologias voltadas para agregação de valor.

Se os bancos públicos investirem em fomento de novos negócios, principalmente liderados por mulheres, em pequenos municípios, podemos alterar esta onda de dominação conservadora. Se criarmos fundos de reconversão produtiva, podemos superar os empregos de baixa qualidade

A saída, portanto, está numa estratégia estatal, pública. Se continuarmos alimentando o agro como força ultraconservadora e de dominação territorial, pagaremos caro num futuro bem breve.

 

 

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