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Mauro Cid não é um Anderson Torres

Mauro Cid e Anderson Torres são as duas bombas no colo de Bolsonaro. Mas Cid não é um Anderson Torres

Foto: ReproduçãoO tenente-coronel Mauro Cid
O tenente-coronel Mauro Cid

 

Por Moisés Mendes, jornalista em seu Blog

Mauro Cid e Anderson Torres são as duas bombas no colo de Bolsonaro. Mas Cid não é um Anderson Torres.

Cid é coronel do Exército. Torres é delegado da Polícia Federal. Cid fazia tudo o que Bolsonaro mandava.

Era mais do que seu ajudante de ordens. Era um fardado prestativo, de alta confiança, que sabia tudo do chefe.

Anderson Torres também era operador das missões impossíveis, como a de levar para casa a minuta do golpe e desarticular a segurança de Brasília e abrir a porteira para o 8 de janeiro.

Mas Cid era mais completo e mais íntimo. Está envolvido nos três rolos mais recentes, das joias, da fraude da vacina e do golpe, com a troca de mensagens entre militares.

Se delatar, Torres continuará sendo o que sempre foi, com todos os riscos envolvidos em traidores da família.

Continuará sem expressão política, talvez exonerado da PF e abandonado pelo grupo que o inventou, como eles fizeram com todos os que não deram certo nas missões recebidas.

Mas com Mauro Cid é diferente. Quase tudo o que acontecer com o coronel a partir de agora terá repercussão no meio militar. Cid é filho de general e queria ser general.

Mauro Cid não é um Anderson Torres porque tem estrelas no ombro e tem defensores. E ninguém ergue a voz para defender o delegado.

Cid já foi defendido até pelo ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, mesmo que bem antes das primeiras denúncias contra ele.

Quando Lula decidiu, no início do governo, que o coronel não iria assumir, como Bolsonaro planejara, a chefia do 1.º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia, Azevedo e Silva lamentou e o definiu como “um oficial brilhante”.

Não há uma voz, uma só, que tenha feito elogio semelhante a Anderson Torres, um delegado mediano que cresceu quando se aproximou de Bolsonaro e virou seu ministro da Justiça.

Cid tem mais força, mas se complicou depois do depoimento da mulher dele, Gabriela, à Polícia Federal, com a confissão de que foi o marido que adulterou o cartão de vacina dela.

Se a tendência de comprometimento do oficial se mantiver, com novas revelações, ele poderá ser o primeiro militar a ter problema concretos com a Justiça, entre todos os que fizeram parte do entorno de Bolsonaro.

O possível indiciamento de Cid pode abrir caminho para que outros fardados sejam identificados como participantes do golpe e de outros crimes.

Até agora não há um só militar de alta patente nem mesmo indiciado, apesar de muitos deles estarem na lista de criminosos da CPI da Covid.

Cid pode abrir a porteira e, se não aguentar o tranco, puxar gente mais graúda para o afogamento, se abrir a boca ou se o seu celular, que finalmente será aberto, abrir a goela.

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