Pensar Piauí

Hora de salvar o que restou das Instituições

Hora de salvar o que restou das Instituições

Foto: GoogleJair Bolsonaro
Jair Bolsonaro

Por Sergio Fontenele, jornalista Durante a campanha eleitoral de 2018 foram expostas declarações de apoio à tortura e ditadura militar, feitas por Jair Bolsonaro. Causou espécie, em particular, uma entrevista na qual ele dizia que a ditadura de 1964 deveria ter matado 30 mil pessoas. O então deputado federal criticava, nessa entrevista, uma suposta “condescendência” dos militares, ao não executar tal contingente de dezenas de milhares de opositores, durante o regime de exceção. Divulgadas foram, durante a campanha, suas palavras em torno de quilombolas pesando não sei quantas arrobas. Ele prometeu armar toda a população, e, caso eleito, metralhar a petralhada, para delírio de sua sedenta claque de lunáticos, que desembarcou na ideia de implantar, manipulando o voto da maioria, um projeto de poder claramente antidemocrático e antinacional. Tanto é que a campanha o exibiu batendo continência à bandeira dos Estados Unidos, a quem prometeu a Amazônia e a Base de Alcântara, no Maranhão. E pelo visto promessas desse quilate estão sendo cumpridas ou buscadas pelo presidente. Apesar de tudo, ele foi eleito, beneficiado, entre outros fatores, por um esquema de disparos em massa no whatsapp, o que configurou caixa dois e propaganda eleitoral ilegal. As conversas entre o então juiz Sérgio Moro e a Lava-Jato vieram à tona, através dos jornalistas do Intercept Brasil, liderados por Glenn Greenwald. E ficou escandalosamente claro que as eleições de 2018 foram fraudadas, por tudo o que aconteceu. Da fraude ao esgarçamento O grande golpe – ou segunda fase do golpe – se evidencia sobretudo pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de forma vil, parcial, política e injusta, através de fraudes processuais pelas quais se acusou, julgou, condenou e trancafiou o petista, sem provas, porém com “evidências”. Agora, com apenas sete meses de mandato, o presidente intensifica o esgarçamento de seu governo. Conseguiu chocar, de novo, mesmo avisando ser favorável à tortura, reiteradas vezes, ao longo de sua longa, obscura e medíocre carreira política. E o fez, ao atacar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que vem denunciando a conduta do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. De novo, Bolsonaro se comprometeu, ao sugerir saber como foi assassinado, nos porões da didatura, em 1974, o guerrilheiro Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da OAB. Enigmático, deixou no ar uma dúvida se teria participado, de alguma forma, do massacre que vitimou Santa Cruz pai. É o que observa a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão do Ministério Público Federal (MPF). Em nota pública, o órgão do MPF afirma que a declaração do presidente se reveste de enorme gravidade, e causa atrito com o decoro ético e moral esperado de todos os cidadãos e das autoridades. As “implicações jurídicas” de suas falas, em consequência, se avolumam e apontam para mais uma ruptura institucional no Brasil. É o que começa a se delinear, a partir do momento em que a estupefação dá vez à necessidade de sobrevivência do estado democrático.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS