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A tentativa de uso sadio das mídias sociais - como busco gerenciar este perfil

O professor Luis Felipe Miguel fala de sua relação com as redes sociais

Foto: DivulgaçãoRedes Sociais
Redes Sociais

 

Por Luis Felipe Miguel, professor, no facdebook 

É difícil largar, mas dá para usar com moderação. As redes se tornaram um espaço importante de socialização e mesmo de atividade profissional.

É difícil abandoná-las. Mas dá para desativar notificações, visitá-las poucas vezes por dia, evitá-las à noite, não clicar em nenhum anúncio e escapar de tretas – há espaços de debate mais saudáveis.

Argumentos em vez iscas emocionais. As pesquisas mostram que o engajamento nas redes cresce conforme é maior o apelo “moral-emotivo”. E que todos somos levados a buscar maior engajamento: é a (parca) recompensa que a plataforma nos dá por trabalharmos de graça para ela.

Eu me esforço para controlar esse impulso e privilegiar a exposição de fatos e uma argumentação racional nas postagens.

Senso crítico para todos. A polarização política - assimétrica, entre uma direita extremada e uma esquerda que ainda joga o jogo da moderação – não foi criada pelas redes, mas elas a alimentam. As “bolhas” ou “câmaras de eco” premiam um partidarismo barulhento e acrítico. No final, parece que está todo mundo disposto a aceitar as fake news de seu agrado (e a cancelar quem não embarca na mesma canoa).

Eu sei que converso com um público progressista, de liberais verdadeiros a comunistas e anarquistas. Na medida das minhas possibilidades, tento acrescentar ao debate, não só me juntar à torcida.

Propor debate honesto não é ser “isentão”. Falo de um lugar bem claro. Defendo a democracia, a igualdade e o socialismo. Tenho convicção de que esses três valores precisam de gente que pense com a própria cabeça, não de seguidores de mitos, e ganham com o desvelamento da realidade, complexa como ela é, não com mistificações.

Criticar nosso próprio lado, recusar simplificações e soluções fáceis, é parte do projeto emancipatório. E assumir lado, em vez de fingir isenção, é necessário para a honestidade do debate.

Minha página, minhas regras. Aqui não é um clube de debates, uma praça pública ou um mural aberto. É meu perfil pessoal.

Eu deleto comentários se, a meu critério, contêm desrespeito a mim ou a outras pessoas, mentiras deliberadas, insinuações maldosas, marketing de produtos, simpatias bolsonaristas ou qualquer outra coisa que me desagrade, dependendo do meu humor no dia. Simples assim. Posso deletar por engano também – as novas gerações nascem com dedos fininhos, mas eu ainda faço muita besteira na telinha do celular.

Não reclamo se agem da mesma forma comigo em suas próprias páginas.

Moderação nas tretas. Tem gente que gosta de um bom debate e se anima com a discordância - sou um desses.

Mas me esforço para não desperdiçar energia com discussões bobas, para aceitar diferenças de opinião e de gosto (já fui cancelado por dizer que não apreciava um livro ou um grupo musical!), para não estender demais a controvérsia e para lembrar que, se alguém está me irritando tanto que estou com a tentação de ser grosseiro, é melhor bloquear a pessoa do que ficar de bate-boca.

Privacidade é bom e eu gosto. Um dos grandes negócios das big techs, o maior deles, na verdade, é nos espionar e vender nossos dados para quem queira nos manipular. Não tem muito o que possamos fazer sobre isso, exceto pressionar o governo por legislação restritiva (estatizar as empresas seria melhor ainda).

Enquanto isso, evito expor minha vida pessoal, não faço login de nada por meio das contas nas redes e sigo a regra de jamais comprar qualquer produto que elas me anunciem.

Nunca aos domingos. Há algum tempo, tomei a decisão de jamais entrar nas mídias sociais aos domingos.

É um tempo de respiro e um ensaio de retomada de uma vida offline. Trabalho melhor e descanso melhor. Recomendo fortemente – e estou pensando em estender para os sábados e feriados também.

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