Pensar Piauí

A realidade da juventude negra no Brasil

A realidade da juventude negra no Brasil

Dentro da atualidade, é extremamente importante discutir sobre vários segmentos de nossa sociedade, a fim de que, se crie uma consciência
e posteriormente projetos que almejem a igualdade. Nos últimos anos, vimos a necessidade de falar sobre a juventude negra brasileira, já que esta
vive em contínuo risco. Tem importância por toda a carga histórica que essa parcela da população carrega: desde a morte de Zumbi dos Palmares a
todas as lutas por direitos feitas pelo povo negro nas últimas décadas. Falar sobre juventude negra lembra a sociedade de que muita coisa precisa ser
feita para se ter igualdade.
Inicialmente, precisamos ter a noção em quais situações esses jovens vivem. Segundo dados divulgados pelo SEPPIR em parceria com o
IPEA(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em documento disponibilizado no ano de 2014 mostra que, em pesquisa comparativa dos
anos de 2001 e 2012 no Brasil, a porcentagem de famílias negras com renda mensal per capita familiar (RPCF) em múltiplos do salário mínimo
menor que 1,5 é maior de que a de famílias brancas. Ou seja, esses jovens vivem em famílias que ganham pouco mais de 1.200 reais para sobreviver.
Nessa mesma pesquisa há um comparativo do nível de escolaridade entre alunos negros e brancos: “Considerando a população com mais de 15 anos,
em 2012, 23% da população branca tinha menos de quatro anos de estudo; entre os negros, este percentual atingiu 32,3%.” Quando se trata da
desigualdade quanto à escolaridade, a pesquisa mostra que isso acontece por múltiplos fatores como renda familiar e acesso a bens públicos. As
consequências de maior porcentagem para a população negra resultam em menor frequência escolar. No que se trata em quais lugares, a juventude a
partir dos 16 anos ocupa dentro do mercado de trabalho, em comparação negros tem trabalhos com remunerações menores do que brancos: em 2012
a porcentagem de pessoas brancas empregados com carteira era de 43,4 % enquanto a de negros 36,7%. Já quando a carteira não é assinada, a
população negra fica com 17,1% enquanto brancos ficam com 12,5 %. Em um parâmetro geral vemos que com baixa renda, baixo índice de
escolaridade e retorno no mercado de trabalho, a população negra vive de certa forma na margem da sociedade e propicia que muitos jovens, que não
veem perspectiva em seu futuro acabem ficando vulneráveis.
A vulnerabilidade que o jovem negro tem com o abandono escolar faz com que, em muitos casos, ele acabe se expondo a situações dentro da
violência urbana ou o tráfico de drogas. Os dois casos propiciam o que hoje é chamado de genocídio da juventude negra. Em artigo publicado no portal
Geledes, Leonardo Queiroz conceitua como seria esse genocídio: “A morte sistemática de jovens negros no Brasil é uma realidade que estampam capas
de noticiários dentro e fora do país. O movimento negro, além de enterrar os corpos, daqueles que não desaparecem misteriosamente, vem
diariamente denunciando o assombroso aumento do número de homicídios da nossa juventude. Alguns grupos definem este cenário de morte como
sendo de extermínio da juventude negra, outros defendem a existência de genocídio.” De fato, se analisarmos o índice de mortes da juventude negra
chegamos a números preocupantes: O Mapa da Violência no Brasil mostra que entre 2002 e 2012 o número de homicídios a jovens brancos reduz de
10.072 a 6.823 enquanto a jovens negros vai de 17.499 a 23.160 no mesmo período. Um decréscimo de 32,3% para um aumento de 32,4%, ou seja, pra
1 branco morto, morrem 2,7 negros. A falta de políticas públicas do Estado para o combate desse genocídio faz com que os números aumentem a cada
ano. As causas são diversas: acerto de contas com o tráfico, brigas entre gangues e confronto policial são algumas delas.
Vários sociólogos brasileiros vem formando opiniões sobre como o Estado encara esse problema. Para muitos, o simples fato de ignorar que
isso acontece mostra despreparo de nossos governantes quanto a realidade social da população negra de nosso país. Não há um incentivo ou
investimento para a melhoria da educação dentro das periferias. Não há um incentivo para as práticas culturais. Não há um incentivo para o
reconhecimento do jovem negro em nossa sociedade. Enquanto o Estado continuar a construir presídios (em que não existe um processo de
ressocialização, que é a meta do sistema prisional brasileiro em teoria) com o objetivo de diminuir a criminalidade, ela irá existir e aumentará
porque não está sendo dado o foco da origem do problema.
Apesar disso, várias instituições sociais se mobilizam para a mudança dessa realidade. Grupos que trabalham com cultura, inserção
social, combate as drogas, inserção no mercado de trabalho e empoderamento, que no caso da população negra é o reconhecimento do
negro com a sua cor e a sua cultura. Esses grupos geralmente não contam com a ajuda do estado e estão nas universidades, escolas, comunidades
quilombolas e nas periferias. A maioria tem como objetivo o combate ao preconceito e à discriminação como é o caso do Grupo Afro Cultural Coisa
de Nêgo que atua na zona norte da cidade de Teresina. O Grupo expõe oficinas de estética negra, dança, percussão e canto para jovens de todos os
cantos da cidade e do interior através da Caravana da Juventude Quilombola. Ações como esta são importantes para que a cultura seja
compartilhada às gerações mais novas e que não se dissolva.
Equiparando para os dias de hoje, os desafios que se colocam para a juventude afro-brasileira resultam de todo um processo de construção
social que os excluiu desde a época da escravidão. O difícil acesso a educação, o preconceito racial, a intolerância religiosa, a presença de uma
maioria da cor negra em comunidades carentes, a erotização e objetificação da mulher negra, o seu extermínio e tantos outros problemas
são um espelho de tudo o que aconteceu no dia 14 de maio de 1888. A “abolição” não trouxe direito algum e os negros eram vistos como escória
dentro da sociedade.
O jovem negro assumir sua cor e sua cultura, a implantação de políticas públicas na zona urbana e comunidades quilombolas, o combate
ao racismo e a conquista de mais espaços representativos são algumas das metas estabelecidas por diversos movimentos sociais atuantes no Piauí e no
Brasil. Entre outras está a afirmação da Lei 10.639 que traz a oportunidade do estudo da cultura africana e afro-brasileira. Mas acima de tudo, a
valorização da educação dentro da periferia seria o primeiro passo para a mudança da realidade dos jovens negros do Brasil.

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