Um passo a mais, a caminho do impeachment
Patrícia Campos Mello é a pedra no sapato do presidente Jair Bolsonaro. O primeiro grande obstáculo representado pela jornalista, às pretensões do presidente, ocorreu ainda na campanha eleitoral de 2018, que o elegeu no segundo turno, com o suposto uso de fakenews, em larga escala, contra o PT. No dia 18 de outubro de 2018, às vésperas do segundo turno, a Folha de São Paulo publicava a reportagem “Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp”, escrita por Patrícia Campos Mello.
A matéria revelou ao Brasil – e ao mundo –, de forma estarrecedora, que o fenômeno eleitoral bolsonarista contava, em larga medida, com o apoio de grandes empresas, que teriam contratado pacotes de disparos em massa, com o objetivo de prejudicar, principalmente, o candidato petista à Presidência da República. Fernando Haddad teria sido o alvo do disparo de centenas de milhões de mensagens contratadas, ilegalmente, por empresas como a Havan. Segundo a jornalista, cada contrato custou R$ 12 milhões, configurando caixa 2.
A notícia da doação não declarada da campanha de Bolsonaro, no entanto, foi ignorada, naquela época, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que ensaiou tomar alguma medida, mas terminou nada fazendo diante do fato denunciado pela Folha. Por ser tão escandalosa – e ter sida tão perceptível –, a denúncia feita pela jornalista atravessou o tempo, o resultado das urnas, o início do mandato do atual presidente, e voltou a revolver o País numa crise política de gigantescas proporções, que não cessa e, pelo contrário, alimenta o governo.
“Furo a qualquer preço”
Com a instauração da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, pelo Congresso Nacional, Bolsonaro, exatamente um ano e quatro meses depois da publicação da reportagem, parece ter ultrapassado um limite intransponível, ficando à mercê de um processo de impeachment. Ao declarar, nesta terça-feira (18-2), que Patrícia Campos Mello “queria dar o furo a qualquer preço” contra ele, o presidente, em tom de piada, não só reproduziu um ato de calúnia, injúria e difamação, mas quebrou o decoro do cargo, de novo.
Seu gesto considerado misógino, inaceitável, por um lado, inflamou a base popular bolsonarista, que praticamente divide o País ao meio, e levou ao delírio seus seguidores, em todos os lugares do País. Por outro, levantou uma onda de revolta, indignação e repulsa, no Brasil inteiro, contra a postura de Bolsonaro, que, ao insultar a jornalista, atacou mais uma vez a imprensa. Até a Rede Globo reagiu, expondo sua atitude e noticiando o tumulto que se sucedeu às declarações, no Congresso Nacional e na sociedade civil organizada.
No universo kafkiano, em que foi transformada esta nação, é provável que o ataque tenha somado pontos na aprovação do governo e popularidade do presidente. Típica estratégia de Bolsonaro, os insultos direcionados a Patrícia podem ter sido feitos para desviar as atenções da opinião pública em relação a algo que ameace o governo, seus filhos ou ele próprio. Mas, desta vez, o presidente deu um passo a mais, ao cometer tal violência de cunho sexual, outro crime de responsabilidade, segundo a Lei do Impeachment.
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