Wellington Soares

Tinha um engasgo na cozinha

Engasgo quase fatal de Nazareno Fonteles na sede do PT é relembrado com humor e alerta


Reprodução Tinha um engasgo na cozinha
Nazareno Fonteles

Parafraseando o poeta Carlos Drummond, num de seus poemas consagrados, inclusive no emprego “incorreto” do verbo, digo: no meio da cozinha tinha um engasgo, tinha um engasgo no meio da cozinha, tinha um engasgo, no meio da cozinha tinha um engasgo. Na vida de minhas retinas tão fatigadas, nunca me esquecerei deste acontecimento, cuja data não sei precisar: o dia em que Nazareno Fonteles, na sede do PT, quase morreu engasgado após tomar água.

Na época, a sede do Partido dos Trabalhadores funcionava à rua Coelho Rodrigues, centro de Teresina, onde costumávamos nos reunir a fim de traçar as diretrizes da agremiação. Numa bela manhã, estávamos lá, na sala de entrada do PT, quando, de repente, não mais que de repente, Nazareno disse que iria à cozinha beber água. Até aí, nada de anormal, não fosse o amigo começar a dar uns pulos para cima. Pensei com meus botões, uma nova modalidade de dança? A ficha só caiu ao notar o desespero no seu rosto e por saber, também, que ele dificilmente inventaria passos tão arrojados.

Ao ter clareza do que acontecia, saltei da poltrona num pulo e corri em sua direção, dando-lhe umas mãozadas nas costas – fortes e repetidamente. O alívio só veio ao perceber que, graças a Deus, ele voltara a respirar de forma normal. Já calmo, Nazareno falou uma coisa, na condição de médico, que guardo na memória até hoje. Caso não tivessem êxito os pulos e os tapas, eu teria que, como medida extrema, enfiar uma caneta Bic ou algo pontiagudo na sua garganta para desobstruir a traqueia.

Você deve estar se perguntando qual a razão deste cronista retomar esse assunto somente agora, transcorridos algumas décadas do fato relatado. Primeiro, por ser o engasgo, apesar de parecer normal, a causa da morte de cerca de 3 mil brasileiros por ano; segundo, por ter vivido, recentemente, com a própria saliva, uma situação de asfixia que poderia ter me levado à morte. E, finalmente, para comemorar os 71 anos bem vividos de Nazareno Fonteles, amigo querido, militante petista e companheiro nas lutas democráticas, em defesa de um Brasil inclusivo e soberano.


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