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Super-ricos, jornada 6x1 e supersalários! Combater as desigualdades sociais é a marca a ser alcançada

Governo foca em justiça social


Reprodução Super-ricos, jornada 6x1 e supersalários! Combater as desigualdades sociais é a marca a ser alcançada
Lula e o povo

Diante do desgaste na popularidade e das crescentes pressões do Congresso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara uma mudança estratégica na forma como comunica suas ações. De acordo com reportagem do jornal O Globo, a nova abordagem busca aliar o combate a privilégios à promoção da justiça social. Entre os temas que devem ser priorizados estão o fim da jornada de trabalho 6x1, a taxação dos super-ricos e o enfrentamento aos supersalários no serviço público.

Com pouco mais de um ano até as eleições municipais, o Palácio do Planalto aposta na retomada de um discurso clássico da esquerda — o combate às desigualdades — como forma de fortalecer a identidade do governo e reaproximar-se de sua base popular. A percepção entre os articuladores políticos é de que a ênfase na defesa da democracia, especialmente após os ataques de 8 de janeiro de 2023, perdeu força entre a população. A nova orientação é priorizar pautas que dialoguem diretamente com a realidade do cidadão comum.

Justiça tributária como eixo central

Para o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), a justiça tributária deve nortear a atuação política do governo até 2026. “Lula sempre foi um presidente que olhou para o povo trabalhador e mais pobre. Agora estamos avançando para enfrentar a profunda desigualdade tributária do país, onde os mais ricos praticamente não pagam impostos, enquanto a classe média e os pobres estão sobrecarregados. É hora de ter clareza política. Essa é a posição do presidente e a que vamos defender”, afirmou.

Dados do Instituto Datafolha divulgados em abril mostram que essa agenda encontra respaldo popular: 70% dos entrevistados apoiam a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, enquanto 76% são favoráveis ao aumento de impostos para quem recebe acima de R$ 50 mil por mês. O Ministério da Fazenda estuda compensar a ampliação da faixa de isenção com a taxação de cerca de 141 mil pessoas que ganham mais de R$ 600 mil por ano, mas atualmente pagam menos de 10% em alíquota efetiva.

Desde o início do governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem liderado esse discurso. Ao defender medidas para alcançar a meta fiscal de 2025, ele ressaltou que ações como a taxação de fundos exclusivos, fintechs e apostas incidem apenas sobre os “moradores da cobertura”.

Revisão da jornada 6x1

Outra frente da nova ofensiva política é a revisão da jornada de trabalho 6x1, considerada exaustiva. Em pronunciamento no Dia do Trabalho, Lula defendeu mudanças nesse regime, que exige seis dias consecutivos de trabalho para apenas um de descanso. “Está na hora de o Brasil avançar nesse debate, ouvindo todos os setores da sociedade, para promover um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar dos trabalhadores e trabalhadoras”, disse o presidente.

Apesar do sinal público, ainda não há uma estratégia definida para viabilizar o tema no Congresso. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), apresentada em fevereiro pela deputada Erika Hilton (Psol-SP), propõe o fim da escala 6x1. A parlamentar já discutiu o tema com membros do governo, mas o Planalto ainda não assumiu oficialmente a proposta.

Combate a supersalários e alta na conta de luz

No Congresso, uma proposta que pode ganhar fôlego é a que busca coibir os supersalários no funcionalismo. Parlamentares da base governista defendem que o Executivo envie um projeto próprio com esse objetivo. Atualmente, há um texto parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado desde 2021, e a equipe econômica avalia apoiar uma das propostas já existentes.

Paralelamente, o governo também quer reforçar a percepção de que o Congresso tem responsabilidade por medidas que afetam diretamente o bolso da população. Um exemplo recente foi a derrubada de vetos presidenciais que, segundo integrantes do governo, podem elevar em até R$ 35 bilhões por ano os custos das tarifas de energia pelos próximos 15 anos. Esses vetos barravam a obrigação de contratação de termelétricas ineficientes, mas foram revertidos por deputados e senadores.

Busca por uma identidade de governo

Para os auxiliares do presidente, essa guinada representa uma tentativa de estabelecer, finalmente, uma marca clara para o terceiro mandato de Lula. Ao contrário de seus governos anteriores — que se notabilizaram pela redução da pobreza e aumento da renda —, o atual mandato ainda não consolidou uma identidade perceptível para o eleitorado. A expectativa é que a combinação de propostas que enfrentem privilégios e ampliem direitos ajude a reverter a queda na aprovação do governo e a recuperar o vínculo com as camadas populares da sociedade brasileira.

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