Planos de Ciro para governador estão em xeque
Mesmo passando ao largo do mérito da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o senador Ciro Nogueira Filho (Progressistas), a respectiva notícia pode se tornar grande empecilho para o parlamentar. Especialmente no que se refere a seu projeto político no sentido de ser eleito governador do Piauí, em 2022. Ciro Nogueira tem dado declarações e demonstrações – inclusive através de gravações de conversas vazadas publicamente – de que já se considera virtual inquilino do Palácio de Karnak, a partir de janeiro de 2023.
Numa de suas conversas vazadas, com um aliado, o senador se gaba de sua estrutura, ou seja, da grana que terá para gastar durante as próximas eleições estaduais e do número de aliados trabalhando em favor de sua futura candidatura – prefeitos, deputados federais, estaduais, etc. Esse aspecto de sua colocação, no áudio vazado, o posiciona em situação delicada, considerando o teor da acusação da PGR, que o aponta como autor dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Como foi noticiado, Ciro teria recebido R$ 7,3 milhões, em propina, da Construtora Odebrecht. Desde o início da Operação Lava Jato, em 2014, o Progressistas – partido presidido nacionalmente pelo parlamentar piauiense – já era apontado como o de maior quantidade de políticos envolvidos com corrupção. O senador chegou a ter sua casa vasculhada por agentes da Polícia Federal, cumprindo mandados de busca e apreensão relacionados às investigações da Lava Jato. Mas, pelo visto, essas investigações pareciam não incomodá-lo.
Céu de brigadeiro
A denúncia da PGR, contra Ciro, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), portanto, começa a mudar de figura a ordem das coisas. Embora seu advogado alegue inocência, o parlamentar terá que torcer e se defender, judicialmente, para que o Supremo não aceite a denúncia, que, evidentemente, é muito grave, o que o tornaria réu. Nesse caso, ainda que seja inocentado, sua trajetória pré-eleitoral, que parece seguir em céu de brigadeiro, pode passar por turbulências mais ou menos comprometedoras, do ponto de vista das urnas.
As consequências eleitorais de um julgamento seriam imprevisíveis, podendo inclusive envolver a perda de apoios políticos importantes, pois, fica complicado pedir voto para alguém tão fortemente suspeito de envolvimento com corrupção. Para o governador Wellington Dias, acossado pelas agressivas manobras de seu principal aliado, teoricamente, o horizonte pode se abrir, já que está diante de uma missão difícil, que é eleger, como seu sucessor, outra pessoa que não seja o senador em questão.
Como se viu, no áudio vazado, o governador está sendo chantageado por Ciro, que ameaçou apoiar uma provável campanha do prefeito Firmino Filho ao Senado, em 2022, o que, no cálculo do presidente do Progressistas, seria decisivo para deixar Wellington sem mandato. A arapuca está armada. A não ser que as complicações do parlamentar com a Justiça comecem a prejudicar o projeto conservador de retomar o poder político-administrativo no Piauí. A propósito, Ciro votou em Jair Bolsonaro para presidente e é de sua base aliada.
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