Os impactos socioambientais das energias renováveis no Piauí
Nesta sexta-feira (22) foi realizado o “Seminário Energias Renováveis no Piauí: por uma transição energética com justiça socioambiental”, no IFPI.
O seminário sobre energias renováveis aconteceu no Dia Mundial da Água, 22 de Março, no auditório do IFPI, para discutir a transição energética no Piauí. O evento é organizado pelo GT de Energias Renováveis e teve as presenças representantes de comunidades atingidas pelos impactos ambientais (Parnaíba e Simões), movimentos sociais, pesquisadores, juristas, ativistas socioambientais e gestores públicos.
Ambientalistas e especialistas na área vem alertando, no Piauí e no mundo todo, sobre os riscos de pensar a transição energética de forma apartada da justiça socioambiental e do respeito às populações vulneráveis.
A transição energética no Piauí, fomentada pela exploração dos ventos e do sol com suas unidades geradoras, eólicas e solar, vem transformando a passagem do sertão. Só no parque Ventos do Araripe III, um dos maiores complexos eólicos da América Latina, localizado no alto da Chapada do Araripe, na fronteira entre os estados de Pernambuco e Piauí, foram investidos R$ 1,8 bilhão em seus 14 parques, sendo nove no Piauí e cinco em Pernambuco.
E, por trás dos investimentos e marketing, tem famílias que estão sofrendo os impactos dessa nova realidade. O pensarpiauí conversou com a socioambientalista e uma das organizadoras do evento, Tânia Martins.
A socioambientalista falou sobre o que motivou todos a organizarem o evento, o que está por trás de tudo, e os impactos das energias renováveis, sem justiça ambiental, na vida dos piauienses.
“A partir do momento que nós soubemos dos impactos nas comunidades, na medida que foram se instalando os projetos aqui no Piauí de energia eólica e solar, a gente começou a observar como eles estavam lidando com essas comunidades. E as coisas acontecem de forma massacrante. Desde a aquisição, aluguel das terras. Eles se aproveitam da fragilidade das pessoas, da falta de conhecimento para passar a perna nessas comunidades. Então, tudo é muito prejudicial para eles. A partir do contrato da terra, depois as pessoas não podem mais usar a terra para nada. Nos casos das eólicas, os impactos causam tanto sofrimento e dores para essas comunidades que é inimaginável. A partir do momento do barulho das hélices dos aerogeradores, isso está causando depressão, estresse, está causando ansiedade em quase todos os moradores que estão próximos desses aerogeradores. Isso vem com o tempo, a gente veio observando aos poucos. E até agora eles estão reclamando sozinhos. Então a gente resolveu reuni-los para ouvi-los e ver o que a gente pode cobrar de políticas públicas para que melhorem, ou então que se façam mesmo leis. Porque não existe uma regulamentação voltada só para essas energias renováveis ainda. E o Piauí principalmente também não tem nada”, afirmou a socioambientalista.
Veja o depoimento de uma das representantes das comunidades:
Um dos organizadores, Adalberto Pereira, disse que a sociedade tem que estudar e se informar muito sobre o assunto. “Não basta só ter as informações técnicas, mas saber o que está por trás dessas informações técnicas também. Então, esse é o momento de nos situarmos sobre o que tem no Piauí e o porquê que o nosso estado foi despertado, foi chamado e está recebendo, inclusive, esse grande capital”, destacou Adalberto, também ex-secretário de formação da CUT.
O deputado Francisco Limma (PT) também esteve presente no evento, e ofereceu apoio do parlamento para ser debatida a pauta mais a fundo na Assembleia Legislativa e demais espaços. “Umas das soluções é uma mudança na lei, na política estadual de meio ambiente. É uma lei ainda de 96. Acho que dentro desse projeto, que eu sou relator, a gente precisa inserir alguma coisa sobre essa pauta importante. Mas a gente precisa ter mais informações para fazermos uma audiência pública, para nos aprofundarmos nesse debate sobre a lei. Eu estou aqui, de fato, querendo somar com todo mundo que está aqui”, disse Limma.
Muitos participantes afirmaram que não adianta falar de agroecologia se não falar do agronegócio, que vem destruindo o meio ambiente como um todo. Também expuseram que se os projetos e debates chegarem nas mãos dos governos, “vão continuar nas gavetas por excesso de zelo”.
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