O Bolsonarismo na paulista
Ato bolsonarista na Paulista expõe divisão interna, esvaziamento popular e tensão entre Bolsonaro e Tarcísio, mirando disputa presidencial de 2026

No último domingo, em São Paulo, a extrema direita bolsonarista foi mais uma vez à avenida Paulista, para apoiar o ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro (PL) e defender uma série de pautas conservadoras, através de uma postura rígida ao que considera ameaças à "ordem natural" da sociedade brasileira – amiudadamente focalizada a minorias e grupos sociais tidos como "inimigos".
Todavia, desse ato público pode-se destacar três situações distintas, mas interconectadas, que revelam fissuras desarmonizadoras no arranjo partidário do movimento político bolsonarista. E podem servir de parâmetros para avaliar a musculatura da força política da extrema direita e projetar o jogo porvir, que se desenha para as disputas estaduais e, principalmente, nacional, em 2026.
Primeira situação: o lema da manifestação pela anistia – "Justiça Já" – foi um tanto quanto sugestivo depois que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, em 26/03, para tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete aliados réus por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa, que culminaram nos atos de 8 de janeiro de 2022.
Até porque o desejo de "Justiça Já" perpassa a vontade do povo brasileiro –da extrema direita e da esquerda. Pois, os acusados responderam a um processo penal – que pode leva-los a condenações com penas de prisão –, cuja decisão se deu à luz dos fatos apresentados na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), no curso do devido processo legal, com garantia ampla do direito de defesa aos acusados.
Segunda situação: a comparação de dados com outras manifestações convocadas pelo ex-presidente inelegível mostra uma nítida desidratação progressiva do movimento da extrema direita no Brasil. Conforme a metodologia do Monitor do Debate Político do CEBRAP em parceria com a ONG More in Common, a participação popular tem regredida.
Em fevereiro de 2025, o ato de apoio ao ex-presidente inelegível reuniu 185 mil; enquanto em abril de 2025, a convocação do ex-presidente inelegível reuniu 44,9 mil pessoas; e agora, em junho de 2025, reuniu 12,4 mil pessoas. Além do notório esvaziamento do “ato de Bolsonaro”, somam-se as ausências emblemáticas – estratégicas ou não – de virtuais presidenciáveis, como Michelle Bolsonaro (PL), Ratinho Júnior (PSD) e Ronaldo Caiado (União), bem como de senadores e de deputados bolsonaristas.
Terceira situação: que pode ou não ter relação com a anterior, é a explícita divisão, semioticamente representada pelo azul – do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) – e pelo amarelo – do ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro (PL). Logo, isto chamou mais atenção do que as falas recheadas de agressividade gratuita às instituições e aos adversários políticos.
Pois, evidencia a divisão interna no bolsonarismo. Enquanto quase todos, no carro de som, estavam de amarelo, incluindo os filhos de Bolsonaro, o governador de São Paulo se destacava, usando pela terceira vez seguida a versão azul da camisa da seleção brasileira de futebol com o número 10 – a cor e número do partido Republicanos –, em um ato de Jair Bolsonaro.
Tanto que o teor da fala de Tarcísio de Freitas irritou o ego de lideranças do bolsonarismo, que viram no seu discurso uma linguagem dirigida ao centro do que uma defesa do ex-presidente, que é réu no STF. Isso frustrou a expectativa de que ele fizesse críticas a Alexandre de Moraes. Porém, ele se limitou a elogiar Bolsonaro, criticar o governo Lula e o PT.
Logo, a divisão está posta; Tarcísio de Freitas quer o espólio político de Bolsonaro, sem ser visto como golpista.
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