Elzenira Rodrigues

Ansiedade juvenil e o impacto do uso descontrolado das tecnologias no âmbito escolar

O uso excessivo das redes sociais tem elevado os casos de ansiedade entre jovens


G1 Ansiedade juvenil e o impacto do uso descontrolado das tecnologias no âmbito escolar
Lei que proíbe o uso de celulares por crianças nas escolas

Vivemos em uma era digital em que o uso da tecnologia é quase inseparável do cotidiano, especialmente entre os jovens. Redes sociais como Instagram, TikTok e WhatsApp tornaram-se parte central da vida adolescente, oferecendo conexão, entretenimento e validação social. Contudo, o uso excessivo e desregulado desses recursos tem sido associado ao crescimento de problemas emocionais como a ansiedade, com repercussões significativas no desempenho escolar e na vida social dos estudantes.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ansiedade afeta mais de 9,3% dos brasileiros, sendo os jovens os mais vulneráveis. Dados da UNICEF (2021) revelam que 37% dos adolescentes entre 13 e 17 anos já se sentiram tristes ou ansiosos por causa da internet. O ambiente digital, ao invés de promover saúde e bem-estar, tem se transformado em uma fonte de comparação, pressão e isolamento. Como aponta a psicóloga Ana Beatriz Barbosa Silva (2021), "os jovens estão cada vez mais adoecidos emocionalmente, e as redes sociais funcionam como gatilhos para essas crises emocionais".

Desenvolvimento

O uso descontrolado da tecnologia dentro de casa, muitas vezes sem acompanhamento ou limite por parte da família, agrava essa situação. Crianças e adolescentes passam horas em frente a telas, o que interfere diretamente no sono, na alimentação, nas interações sociais e no rendimento escolar. O estudo do neurocientista Michel Desmurget (2019), autor da obra A Fábrica de Cretinos Digitais, reforça que “quanto mais tempo as crianças passam em frente às telas, piores são seus resultados escolares”, além de apresentarem maiores níveis de ansiedade e impulsividade.

Em muitas casas, a tecnologia assumiu o papel de "babá eletrônica", em que celulares e tablets são usados como ferramentas de entretenimento contínuo, enquanto os pais se ocupam de suas próprias rotinas digitais. Isso enfraquece os vínculos familiares e impede que o diálogo sobre emoções e limites se desenvolva. O psicólogo Luiz Hanns (2020) afirma que “o excesso de telas afasta os filhos dos pais, dos amigos reais e de si mesmos. Eles estão conectados ao mundo, mas desconectados do próprio interior”.

No ambiente escolar, as consequências são alarmantes. Professores relatam aumento de desatenção, desinteresse pelas aulas presenciais e maior dificuldade de socialização entre os alunos. Isso porque, ao se habituarem a estímulos rápidos e constantes oferecidos pelas redes, os jovens tornam-se menos tolerantes ao tédio e ao ritmo tradicional da aprendizagem. Como afirma a pesquisadora Sherry Turkle (2017), do MIT, “estamos perdendo a capacidade de estar sozinhos com nossos pensamentos e também a de manter conversas profundas. Isso compromete a empatia e o aprendizado”.

Outro ponto preocupante é o aumento da comparação social. A constante exposição a vidas idealizadas nas redes sociais provoca nos adolescentes uma sensação constante de inadequação e fracasso. Influenciadores digitais exibem corpos perfeitos, rotinas glamourosas e conquistas irreais que, muitas vezes, não correspondem à realidade. Essa comparação social negativa contribui para o aumento da ansiedade, da insatisfação corporal e da baixa autoestima. A psicóloga Rachel Naomi Remen salienta que “a expectativa irreal de perfeição imposta pelas redes sociais mina a autenticidade e a autocompaixão dos jovens”.

Além disso, um estudo realizado pela Universidade de Essex (Reino Unido, 2020) mostrou que meninas que usam redes sociais por mais de três horas ao dia têm o dobro de chance de apresentar sintomas depressivos e ansiosos. Entre os meninos, os números também são preocupantes, com maior incidência de insônia, agressividade e isolamento.

O papel da escola, nesse cenário, torna-se desafiador. Instituições de ensino enfrentam o dilema de integrar a tecnologia como ferramenta pedagógica sem agravar os efeitos negativos do uso contínuo e desregulado. É fundamental que o uso das tecnologias nas escolas seja consciente, mediado e orientado, promovendo mais do que apenas habilidades técnicas: deve promover o bem-estar emocional e a alfabetização digital crítica.

Conclusão

É urgente repensar o uso da tecnologia no ambiente familiar e escolar, estabelecendo limites saudáveis e promovendo a educação digital como parte essencial da formação dos jovens. Famílias e escolas precisam caminhar juntas na orientação e no acompanhamento do uso das redes sociais, criando espaços de diálogo, escuta e apoio emocional. A ansiedade juvenil não pode ser ignorada ou tratada como algo natural do crescimento. Ela é um sintoma de uma sociedade hiperconectada, mas emocionalmente distante.

Medidas simples, como horários controlados para uso de telas, momentos de desconexão familiar, incentivo à leitura, ao esporte e à convivência offline podem gerar efeitos positivos e duradouros. É essencial que pais e educadores estejam atentos aos sinais de ansiedade, como alterações no sono, mudanças de humor, irritabilidade e queda no rendimento escolar.

Como alerta o educador e filósofo Mario Sérgio Cortella (2020), “tecnologia é ferramenta, não caminho. Quando a confundimos com o caminho, desviamos o jovem daquilo que realmente importa: o encontro consigo mesmo e com o outro”. Dessa forma, ao humanizar as relações e priorizar a saúde mental, estaremos, de fato, educando para o futuro – e não para a ansiedade.

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