Elzenira Rodrigues

Pedro II: a história de Chico Formiga e o caso de intolerância religiosa

O legado espiritual de Chico Formiga inspira resistência e respeito à diversidade religiosa diante da intolerância em Pedro II, no Piauí.


Reprodução Pedro II: a história de Chico Formiga e o caso de intolerância religiosa
Intolerância religiosa

Francisco José do Nascimento nasceu em 20 de abril de 1931, na cidade de Pedro II, Piauí. Filho de Antônio José e Raimunda Francisca, desde cedo trabalhou para ajudar a família, exercendo diversas profissões: foi sapateiro, músico, motorista de frete, garimpeiro e também chegou a se candidatar a vereador. Sua vida foi marcada pela dedicação ao trabalho, à espiritualidade e ao serviço voluntário à comunidade.

Durante sua juventude, mudou-se para União, onde aprendeu a tocar piston. Ao adoecer seriamente, buscou cura com o Babalorixá Raimundo, sendo curado e também iniciado na vida espírita. De volta a Pedro II, passou a realizar trabalhos espirituais, enfrentando resistência de autoridades religiosas e policiais, mas nunca desistindo de sua missão de ajudar o próximo. Era carinhosamente conhecido como Chico Formiga.

Após seis anos de atuação na espiritualidade, uniu-se a nomes como o tabelião Walter, seu sogro Valdemar Freitas, Firmino, João Mendes e Epifânio Getirana para fundar o Centro Espírita Pedro de Alcântara, que prestou grandes serviços à comunidade pedrossegundense, formando médiuns e auxiliando centenas de pessoas.

Francisco foi casado com Sebastiana, com quem compartilhou a missão espiritual por muitos anos. Francisco faleceu em 26 de junho de 2001, quatro anos após a morte de sua esposa, em 27 de janeiro de 1997. Sua memória é preservada principalmente no Centro Espírita que ajudou a criar.

Sua trajetória de fé, serviço e respeito ao próximo contrasta com um triste episódio recente ocorrido na mesma cidade.

Intolerância Religiosa em Pedro II: Um Alerta Atual

A chegada da estátua de Iemanjá Negra a Pedro II, em 2025, trouxe à tona um caso alarmante de intolerância religiosa. Em vez de acolhida, o monumento foi alvo de ataques nas redes sociais, incluindo uma oferta criminosa de R$ 5 mil para quem o destruísse. A atitude revela o racismo religioso persistente no país, especialmente contra religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda.

A ativista Juliana Nogueira reagiu com firmeza, usando as redes sociais para defender o direito à liberdade de crença e denunciar a violência simbólica contra o povo de axé. Sua fala foi um importante ato de resistência e consciência social.

A inauguração da estátua está marcada para 21 de junho, durante o tradicional Festival de Inverno de Pedro II, e contará com autoridades e caravanas religiosas de várias cidades. Mais que um evento cultural, será um ato de reafirmação do direito à fé e ao respeito à diversidade.

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso VI, garante a liberdade religiosa como um direito inviolável. Já a Lei nº 7.716/89 tipifica como crime qualquer incitação ao preconceito por motivos religiosos. Assim, intolerância não é opinião — é crime.

Um Legado e um Chamado

A história de Francisco José do Nascimento e o atual episódio envolvendo a intolerância religiosa demonstram duas faces do mesmo local: a do compromisso com o bem coletivo e a do desafio de construir uma sociedade mais justa. Enquanto Francisco construiu pontes de acolhimento espiritual, hoje ainda há quem queira erguer muros de preconceito.

Que a memória de Francisco, marcada pelo respeito, espiritualidade e amor ao próximo, inspire o povo pedrossegundense a combater o ódio com empatia, a intolerância com educação, e o preconceito com justiça. Que a estátua de Iemanjá, assim como o Centro Espírita Pedro de Alcântara, sejam símbolos permanentes de fé, resistência e liberdade.

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