Elzenira Rodrigues

Burnout em professores: causas e prevenção na escola

O que é a Síndrome de Burnout e como ela afeta os professores


Reprodução/Eduardo Cavalcante/Seduc Burnout em professores: causas e prevenção na escola
Professore em sala de aula

A saúde mental dos professores tem ganhado atenção crescente diante do aumento dos casos de esgotamento físico e emocional no ambiente escolar. Dentre as principais síndromes que acometem os educadores, destaca-se a Síndrome de Burnout, um distúrbio psíquico caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal no trabalho (Maslach & Jackson, 1986). Essa condição compromete não apenas o desempenho do profissional, mas também a qualidade do ensino e o clima organizacional das instituições escolares.

No contexto da Educação Básica, onde os desafios incluem sobrecarga de trabalho, baixos salários, indisciplina, pressão por resultados e escassez de recursos, o risco de adoecimento mental se intensifica. O professor, muitas vezes, assume papéis que vão além do ensino: mediação de conflitos, suporte emocional, gestão de sala e atendimento às famílias, sem o devido preparo ou apoio.

A escola, que deveria ser um espaço de aprendizagem e desenvolvimento, torna-se muitas vezes um local de sofrimento psíquico para o educador. Com isso, discutir estratégias preventivas e ações institucionais de suporte torna-se essencial para a valorização da profissão docente e para a promoção de um ambiente escolar mais saudável, colaborativo e humanizado.

1. O que é a Síndrome de Burnout e como ela afeta os professores

A Síndrome de Burnout foi descrita inicialmente por Freudenberger (1974) como um estado de esgotamento extremo relacionado ao ambiente de trabalho, especialmente entre profissionais que lidam diretamente com pessoas. Posteriormente, Maslach e Jackson (1986) sistematizaram a síndrome em três dimensões principais:

•Exaustão emocional: caracteriza-se por uma sensação constante de cansaço, fadiga extrema e falta de energia para lidar com as demandas diárias;

•Despersonalização: manifesta-se como um distanciamento afetivo dos alunos e colegas, muitas vezes acompanhado de atitudes negativas, cinismo ou indiferença;

•Redução da realização pessoal: refere-se à sensação de ineficácia, falta de competência e desvalorização do próprio trabalho.

No caso dos professores, essas dimensões se expressam de forma particular: a perda do entusiasmo pela docência, a ausência de sentido no trabalho pedagógico e a percepção de que seus esforços não produzem impacto real na aprendizagem dos alunos. Segundo estudo da Fiocruz (2018), aproximadamente 40% dos professores da rede pública relataram sintomas compatíveis com esgotamento emocional, indicando uma tendência preocupante de adoecimento entre os educadores.

2. Fatores de estresse no trabalho docente

O ambiente escolar é repleto de desafios que comprometem o bem-estar mental dos professores. Os fatores de estresse estão tanto nas condições materiais quanto nas relações interpessoais e institucionais. Entre os mais recorrentes, destacam-se:

•Salários baixos e falta de valorização profissional: que geram frustração e desestímulo;

•Turmas superlotadas e falta de recursos pedagógicos: dificultando a organização e a personalização do ensino;

•Cobranças por resultados e avaliações externas padronizadas: que desconsideram a realidade socioeconômica dos alunos;

•Violência e indisciplina: que tornam a sala de aula um espaço de conflito constante;

•Acúmulo de tarefas e sobrecarga administrativa: reduzindo o tempo para o planejamento e o cuidado com o próprio bem-estar.

Esses fatores provocam um ciclo de tensão permanente, agravando os níveis de estresse e diminuindo a capacidade de resiliência dos professores. Como afirma Nóvoa (1995), “ensinar é, antes de tudo, um exercício de entrega emocional”, e essa entrega precisa ser reconhecida e apoiada pelas instituições escolares.

3. Estratégias institucionais de prevenção e suporte

O enfrentamento da Síndrome de Burnout entre professores exige uma abordagem institucional integrada, que envolva formação, acolhimento, escuta ativa e políticas de valorização docente. Algumas estratégias eficazes incluem:

•Criação de espaços de escuta e acolhimento: a presença de psicólogos escolares e rodas de conversa entre docentes podem favorecer o desabafo e o apoio emocional;

•Valorizacão da carreira docente: salários justos, planos de carreira e reconhecimento do trabalho educativo contribuem para o fortalecimento da autoestima profissional;

•Formação continuada centrada no bem-estar: cursos sobre gestão emocional, mindfulness, autocuidado e manejo do estresse ajudam a criar repertórios saudáveis de enfrentamento;

•Organização do trabalho mais humana: delimitação clara de funções, tempo adequado para planejamento e gestão participativa favorecem um clima de cooperação;

•Promoção de cultura institucional de empatia: programas de apoio entre pares e uma liderança escolar que escute e valorize seus professores são fundamentais para a prevenção do sofrimento psíquico.

Como destaca Antunes (2012), “cuidar da saúde mental dos educadores é condição indispensável para que a escola seja um espaço de desenvolvimento humano e não de adoecimento”. A promoção da saúde mental não deve ser vista como uma ação pontual, mas como parte de uma cultura organizacional comprometida com o bem-estar coletivo.

A Síndrome de Burnout nos professores da Educação Básica não é apenas um problema individual, mas um reflexo das condições estruturais e simbólicas do sistema educacional brasileiro. O adoecimento docente compromete o projeto pedagógico da escola, afeta os alunos e enfraquece a qualidade da educação.

Nesse sentido, é imprescindível que as instituições escolares e os órgãos públicos de educação adotem medidas efetivas de prevenção, escuta, formação e valorização dos profissionais da educação. Promover um ambiente escolar emocionalmente saudável é garantir que o professor se sinta respeitado, apoiado e capaz de cumprir sua missão educativa.

Investir na saúde mental dos educadores é, acima de tudo, um compromisso com a dignidade humana, com a qualidade do ensino e com a construção de uma sociedade mais justa, solidária e consciente.

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