Morre, aos 89 anos, Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai
Líder progressista, símbolo de simplicidade, empatia e luta por justiça social

Morreu nesta terça-feira (13), em Montevidéu, José Mujica. O ex-presidente do Uruguai (2010–2015), que lutava contra um câncer no esôfago desde o início do ano, tinha 89 anos.
Filho de agricultores, José Alberto Mujica Cordano nasceu em 20 de maio de 1935 na capital uruguaia. Desde a juventude, envolveu-se com causas sociais e políticas que moldariam sua trajetória como uma das figuras mais emblemáticas da América Latina contemporânea.
Na década de 1960, aderiu ao movimento guerrilheiro Tupamaros, que combatia as desigualdades sociais e o autoritarismo no país. Com o golpe militar de 1973, Mujica foi preso e passou 13 anos encarcerado — 11 deles em condições extremamente severas, incluindo longos períodos de isolamento.
Após o retorno da democracia, abandonou a luta armada e passou a atuar na política institucional. Foi um dos fundadores do Movimento de Participação Popular (MPP), integrante da coalizão de esquerda Frente Ampla. A mesma Frente Ampla que voltará ao poder em 2025 com a eleição de Yamandú Orsi, em novembro.
Antes de chegar à presidência, Mujica foi deputado e senador. Como chefe de Estado, destacou-se por seu estilo simples, por sua visão progressista e pelo firme compromisso com o bem-estar social. Era frequentemente descrito como um pensador com um raro senso de ética e humanidade.
Seu governo priorizou a redistribuição de renda, a ampliação de direitos e a inovação legislativa. Sob sua liderança, o Uruguai aprovou leis pioneiras, como a legalização da maconha, do casamento igualitário e do aborto, tornando-se referência progressista no continente.
O país, que até então enfrentava desafios históricos de desigualdade, estagnação econômica e conservadorismo político, passou a ser visto como modelo global de modernização com justiça social.
Ficou conhecido internacionalmente como “o presidente mais pobre do mundo” por doar 90% de seu salário e manter um estilo de vida austero em sua pequena propriedade rural, ao lado da esposa, a também senadora e militante Lucía Topolansky. O casal não teve filhos.
Sua trajetória, marcada por discursos profundos e contundentes — com críticas ao consumismo e defesa da sustentabilidade — ganhou repercussão mundial. Barack Obama o chamou de “exemplo de honestidade e clareza moral para todos os líderes”, enquanto o Papa Francisco o descreveu como “um verdadeiro servidor do povo”.
Em dezembro, o presidente Lula visitou Mujica em sua chácara e entregou a ele a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul — a mais alta condecoração do Estado brasileiro a um cidadão estrangeiro. “A gente não escolhe irmão, nem mãe. Mas escolhe companheiros”, disse Lula, destacando a grandeza do amigo. “De todos os presidentes que conheci, Pepe é a pessoa mais extraordinária.”
Com sua morte, e a ascensão política de Yamandú Orsi, surge o nome da atual prefeita de Montevidéu, Carolina Cosse, como potencial herdeira do legado deixado por Mujica.
Mais do que ex-presidente, Pepe Mujica foi um símbolo de uma nova forma de fazer política — baseada na ética, na empatia e na simplicidade. Sua história transcende fronteiras e deixa ao mundo um legado de esperança, solidariedade e resistência.
Sua vida prova que a política, mesmo em tempos difíceis, pode ser um ato de amor.
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