Mais uma reportagem liga Ciro Nogueira à fraudes no INSS
O deputado federal Ricardo Barros (PR), ex-ministro da Saúde de Temer também está envolvido

Uma ampla reportagem assinada pelo jornalista Plínio Teodoro, publicada no site da Revista Fórum, aponta conexões entre figuras centrais do Partido Progressistas (PP) — como o senador Ciro Nogueira (PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, e o deputado federal Ricardo Barros (PR), ex-ministro da Saúde — com o esquema de fraudes investigado pela Polícia Federal no INSS.
Segundo a matéria, o empresário Maurício Camisotti, dono do Grupo Total Health, é o principal alvo da Operação Sem Desconto, que apura desvios relacionados a empréstimos consignados a aposentados. Camisotti seria o elo entre entidades suspeitas e políticos do alto escalão.
De acordo com a Polícia Federal, três associações investigadas — Ambec, Unasbras e Cebap — tinham como diretores parentes e funcionários ligados ao grupo empresarial de Camisotti. Essas entidades teriam transferido R$ 43 milhões a empresas da Total Health, entre elas a Prevident, Rede Mais e Benfix. Só a Prevident, por exemplo, recebeu R$ 16,3 milhões da Ambec e é comandada por José Hermicesar Brilhante Palmeira, ex-secretário-geral da própria associação.
A investigação aponta ainda que essas entidades ganharam força nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. A Ambec, especificamente, teve crescimento vertiginoso durante a gestão Bolsonaro: arrecadou apenas R$ 135 em 2021 e saltou para R$ 91 milhões em 2023. Isso coincidiu com medidas do então ministro da Economia, Paulo Guedes, que ampliaram a margem de endividamento de aposentados via crédito consignado, permitindo comprometimento de até 45% da renda.
Relações políticas e Covaxin
Maurício Camisotti tem um histórico de proximidade com figuras do PP. Reportagem da IstoÉ, de 2019, revelou que ele já foi investigado pela Polícia Federal por suposto pagamento de propina a parlamentares como Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Ricardo Barros, Paulo Maluf (PP-SP) e ao próprio Ciro Nogueira.
Mesmo sob investigação, Ciro Nogueira assumiu a Casa Civil em agosto de 2021, sendo considerado uma espécie de “presidente de fato” enquanto Bolsonaro se dedicava à campanha e aos eventos públicos. Nogueira também foi um dos articuladores do chamado “orçamento secreto”, que distribuiu bilhões em emendas parlamentares sem transparência.
Segundo a reportagem, o envolvimento de Camisotti no setor público remonta ainda ao período em que o PP controlava a Geap, plano de saúde dos servidores federais. Documentos indicam que ele firmou contratos milionários com o Geap, cuja direção é indicada por ministérios como o da Saúde, a Casa Civil e o INSS. A Polícia Federal chegou a investigar suspeitas de propinas nesses contratos, envolvendo novamente Ricardo Barros, Ciro Nogueira e Aguinaldo Ribeiro, mas os inquéritos não avançaram.
Ligação com a Precisa Medicamentos
Camisotti também aparece em documentos do Coaf entregues à CPI da Covid. O empresário teria tentado intermediar uma operação de câmbio no valor de R$ 18 milhões em nome da Precisa Medicamentos, empresa envolvida na controversa compra da vacina Covaxin pelo governo Bolsonaro. Sem vínculo formal com a empresa, o banco recusou a transação.
Ele afirmou ter apenas “endossado” a operação a pedido de Francisco Maximiano, dono da Precisa, com quem teria firmado um contrato de mútuo registrado pelo advogado Nelson Willians. O dinheiro, segundo ele, seria usado para compra de testes de Covid para o governo do Distrito Federal. A dívida, porém, nunca foi paga, de acordo com Camisotti.
Ainda segundo a Crusoé, Ricardo Barros teria intermediado a contratação do escritório de advocacia de Nelson Willians pelo Geap, num contrato avaliado em cerca de R$ 12 milhões, supostamente com apoio de Camisotti.
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