Política

Bolsonaro, o paciente que nunca deixa o palanque

Internado na UTI após cirurgia, Bolsonaro usa redes para dramatizar recuperação e reforçar imagem de mártir político


Reprodução Bolsonaro, o paciente que nunca deixa o palanque
Bolsonaro, o paciente que nunca deixa o palanque

Internado na UTI do Hospital DF Star, em Brasília, desde domingo (13), após mais uma cirurgia abdominal, o ex-presidente Jair Bolsonaro parece mais empenhado em manter-se no centro da atenção pública do que em preservar sua recuperação. Ignorando qualquer senso de recato ou privacidade hospitalar, Bolsonaro divulgou nesta terça-feira (15) imagens em que aparece debilitado, caminhando com auxílio de andador, com ferimentos expostos e visível dificuldade para falar. Tudo registrado com cuidadosa mise-en-scène para alimentar sua narrativa messiânica de resistência.

“Sem desistir! Vamos adiante, Brasil!”, escreveu ele nas redes, enquanto compartilhava o vídeo – um ato que, mais uma vez, escancara sua estratégia de capitalizar politicamente até mesmo momentos de fragilidade pessoal. O uso deliberado da doença como ferramenta de mobilização é uma tática recorrente do ex-presidente, que desde a facada em 2018 transformou suas sucessivas internações em atos simbólicos de martírio.

Apesar da tentativa de dramatização, o boletim médico divulgado pelo hospital revela um quadro clínico estável, sem dor ou sangramentos, e com previsão apenas de fisioterapia motora e respiratória. Não há previsão de alta, mas tampouco há sinais de agravamento que justifiquem o alarmismo performático encenado nas redes.

Apelo político em clima de despedida

O espetáculo não se limitou ao leito hospitalar. Horas antes da cirurgia, Bolsonaro publicou uma mensagem em tom quase fúnebre, pedindo que Deus iluminasse os parlamentares na votação da anistia aos golpistas do 8 de Janeiro – uma tentativa de pressionar emocionalmente o Congresso em favor de seus aliados que atacaram a democracia.

"Se, com nossas decisões, pavimentamos a nossa eternidade, esse voto tem um peso capital", escreveu, em uma retórica carregada de dramatismo. A publicação causou apreensão entre seus aliados, que viram na mensagem um tom de despedida estratégica – típica do bolsonarismo, que costuma flertar com o imaginário do sacrifício pessoal em nome de uma suposta missão redentora.

Após a cirurgia, considerada a mais longa e complexa desde a facada, durando 12 horas, médicos disseram que tudo correu bem, mas alertaram para a importância das 48 horas seguintes. Ainda assim, segundo relatos, Bolsonaro já fazia piadas na UTI no dia seguinte – um contraste gritante com o apelo emocional nas redes sociais.                                      A nova internação é mais um episódio de uma longa série em que Bolsonaro transforma o hospital em palanque e sua saúde em ferramenta política. A insistência em expor cada detalhe do tratamento não parece ter como foco principal informar, mas sim manter viva a figura do “líder perseguido”, eternamente em batalha, seja contra adversários, contra a Justiça ou agora, contra o próprio corpo.

Enquanto o país enfrenta desafios reais e urgentes, Jair Bolsonaro prefere seguir encenando sua epopeia pessoal – sempre com a câmera ligada, o roteiro em mãos e os olhos voltados para o eleitorado que ainda o vê como um mito em provação.

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