As batalhas perdidas pelo presidente
Ainda é muito cedo para se fazer qualquer projeção nacional, em torno da evolução da COVID-19, embora autoridades sanitárias de São Paulo tenham anunciado, oficialmente, que o estado alcançará a marca de 1.200 mortos, até o Domingo de Páscoa, se o isolamento social for respeitado pela população. Caso contrário, os prospectos do secretário estadual de saúde paulista apontam para o número sinistro de cinco mil mortos, aproximadamente, até a data sagrada católica.
O País é quase gigantesca incógnita, no que se refere ao desenvolvimento da pandemia. Não se sabe se a tal curva gráfica, apresentada pelo Ministério da Saúde, todos os dias, será achatada, para que se prolongue o período no qual o coronavírus continuará atuando em território nacional, porém, de forma menos intensa. Essa é a meta ministerial, para não colapsar o sistema de saúde e suas unidades de terapia intensiva (UTIs). Do contrário, ainda segundo as autoridades médicas, ter-se-á um pico trágico, semelhante aos da Europa e EUA.
Por enquanto, a maioria da população permanece acompanhando a escalada dos números de mortes e casos oficiais, testados, mais ou menos graves, no Brasil. Quem ainda tem condição de permanecer confinado, em suas casas, respeitando rigorosamente as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), no sentido do isolamento social, tenta não se contagiar, manter a sanidade mental e trabalhar no modo home office. A cada dia que passa, no entanto, as estatísticas fúnebres seguem subindo, bem como o número de casos.
Negacionismo genocida
Por outro lado, a intensificação da crise política – que perdura desde 2013 –, com o posicionamento negacionista do presidente Jair Bolsonaro, tentando minimizar a gravidade da pandemia e impor medidas genocidas, como restabelecer as aulas e normalizar, por inteiro, a atividade comercial, industrial e de serviços. Confrontando a ciência, a avaliação das autoridades sanitárias e as recomendações da OMS, ele, como se viu, entrou em guerra com os governadores estaduais, o Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF), etc.
Bolsonaro perdeu essa batalha – talvez não a guerra –, e viu surgir, para horror do bolsonarismo, novos elementos políticos importantes na conjuntura nacional, com o advento da doença infecciosa. Um deles é o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, até então um personagem desconhecido, discreto membro do primeiro escalão do atual governo. Jair ficou enfurecido com o protagonismo alcançado por Mandetta. Foi corroído pelo ciúme, ao ver um de seus subordinados brilharem mais do que o brilho que julga ter.
A história registra que o presidente tentou demitir o ministro, mas se viu isolado, com a popularidade despencando na medida inversamente proporcional ao crescimento da de Mandetta, inclusive sendo impedido de exonerá-lo, por força do poder de “persuasão” dos generais que o cercam no Palácio do Planalto. Outro elemento novo e incômodo aos planos do presidente foi o fenômeno da ascensão dos governadores, com quem travou queda de braço e tombou. Os governadores ignoraram os movimentos de Bolsonaro e terminaram prevalecendo.
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