"Ainda Estou Aqui" é um filme para que a história não se repita
O pensarpiauí foi ao cinema e conversou com espectadores do filme dirigido por Walter Salles que conta a história de Eunice e Rubens Paiva na ditadura
O cinema tem o intuito de evocar emoções através das imagens e histórias contadas. Em voga, “Ainda Estou Aqui”, filme estrelado por Fernando Torres e Selton Mello, conta a história do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado durante a ditadura militar e sua esposa, Maria Eunice Paiva, que lutou bravamente para que a memória do marido e de mais de 20 mil pessoas mortas não fossem apagadas.
O pensarpiauí foi até um cinema em Teresina para conversar com o público do filme dirigido por Walter Salles, que já foi visto por mais de um milhão de pessoas nas primeiras duas semanas e atingiu uma arrecadação de R$ 23 milhões, ficando atrás somente de 'Gladiador 2'. As primas, Ana Cristina Ximenes e Suzana Prado falaram conosco antes e depois do filme, para trazer à tona suas motivações e, em seguida, seus novos olhares sobre a história ali narrada.
"O filme está sendo muito bem divulgado, com boas críticas e com dois atores sensacionais, a gente aproveitou o feriado e veio conferir", disse Ana. “O contexto histórico é fantástico, fala sobre a ditadura, sobre a mulher que precisou resistir a muita coisa, se reinventar, como a Euneci, e fala sobre o Alzheimer, que é uma doença neurológica terrível e a gente tem histórico na nossa família, então nós viemos também para ter esta visão do outro lado. Tudo isso veio no pacote para que viéssemos assistir, alguns amigos já haviam dito para que nós trouxéssemos o lenço porque choraríamos no final”, lembrou Suzana.
Foram pouco mais de duas horas de filme, que se inicia a partir da perspectiva de que Rubens Paiva já não era mais um deputado trabalhista e havia voltado do exílio após o golpe de 1964. No Rio de Janeiro, cercado pela esposa, os cinco filhos e amigos, a vida de engenheiro se desenrolava quando ele foi sequestrado por agentes da aeronáutica, em sua casa, para nunca mais voltar.
Levado para a sede do Destacamento de Operações de Informações (DOI-Codi) do I Exército, na zona Norte do Rio de Janeiro, Rubens Paiva foi morto e seu corpo, mais de 50 anos depois, nunca foi encontrado. A partir daí, a luta de Eunice Paiva se inicia, primeiro com a mudança para São Paulo, aonde cursou Direito e se formou aos 48 anos para poder atuar junto aos Direitos Humanos.
Para que não se esqueça
Emocionadas ao fim do filme, com os olhos marejados pelas lágrimas que a atuação silenciosa de Fernanda Montenegro proporciona, Suzana trouxe suas impressões. “Eu fiquei assustada com aquela história deles entrarem nas casas das pessoas”, disse ela ao lembrar o momento em que seis militares da Aeronáutica chegam à casa dos Paiva, no Leblon, para levar Rubens até o local aonde o depoimento aconteceria.
“Eu acho esse filme extremamente importante e todo brasileiro deveria assistir por toda questão histórica. Para mim, veio em um momento pertinente porque estamos vivendo um momento, de guerras mundiais, e no próprio Brasil, a semana que um homem se explodiu com uma bomba, isso havia acabado no Brasil após a ditadura”, salientou Ana. Esse filme me tirou o ar, do começo ao fim, eu não conseguia respirar, tanto pelo o que passou quanto o que pode vir a acontecer. Estamos a um triz de perder nossos direitos novamente”, finalizou. O cara da bomba semana passada, eu tomei um susto. A gente é sobrinho da ditadura, então eu vi e vivenciei um pouco daquele ar pesado e da redemocratização que nós conquistamos, de viver em um Estado Democrático de Direito. E para isso acontecer, muita gente sofreu, apanhou, foi torturada e muitos se calaram. Esse filme nos mostra como uma mulher pode se refazer e como essa mulher precisou se refazer. O filme é muito delicado neste assunto, fala das memórias, as lutas, como a família foi torturada psicologicamente. Muito tocante neste sentido, mas a questão de provar que o marido havia sido morto, ela conseguiu”, ressaltou Suzana.
Importância da Comissão da Verdade
A Comissão da Verdade, instituída em 2012 pela presidente Dilma Rousseff (PT), também presa e torturada durante os anos de chumbo foi crucial para que Eunice Paiva e seus cinco filhos tivessem o mínimo de dignidade em relação ao pai, como uma simples certidão de óbito, conquistada em 2014. Foi através da Comissão que cinco militares foram responsabilizados pela morte de Rubens, mas a demora em punir àqueles que foram articuladores de um dos piores períodos brasileiros é tanta, que três deles já morreram.
“É um momento ímpar em que este filme está chegando, principalmente estas pessoas mais jovens, que não vivenciaram um pouco que a gente vivenciou, do que foi a Ditadura Militar. Foi um momento muito difícil para este país e este filme vem tentar dizer ‘olha, é mais ou menos assim, vocês querem voltar para o que era antes?’”, questiona. “Não dá, porque o que era antes, não era bom, não era saudável, por isso nossos direitos, a democratização do país e as instituições devem seguir firmes para manter tudo democraticamente em funcionamento”, finalizou.
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