A luta das mães pela garantia de direitos e acesso a serviços públicos para crianças autistas
Desafios no acesso à saúde, educação e benefícios sociais

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurobiológica que afeta milhões de crianças no Brasil, e as famílias enfrentam uma luta constante pela garantia de direitos fundamentais, como o acesso a serviços públicos de saúde, educação e assistência social. Para as mães de crianças autistas, essa jornada muitas vezes envolve barreiras burocráticas, falta de informações claras e um sistema público de serviços que, embora essencial, ainda carece de estrutura para atender adequadamente a todas as demandas. Neste artigo, discutiremos os principais desafios enfrentados pelas mães na busca por serviços públicos adequados para seus filhos autistas, as dificuldades do sistema e a importância de políticas públicas mais inclusivas e eficazes.
Desafios no Acesso aos Serviços de Saúde
Uma das primeiras barreiras que as mães de crianças autistas enfrentam é o acesso ao diagnóstico adequado. O diagnóstico precoce do TEA é essencial para garantir que a criança tenha acesso a terapias e intervenções que podem melhorar significativamente seu desenvolvimento. No entanto, muitos pais enfrentam longas filas de espera no Sistema Único de Saúde (SUS) e dificuldades para encontrar profissionais especializados em autismo.
"A realidade é que o SUS, apesar de ser uma rede vital, muitas vezes não oferece as condições necessárias para que as crianças com TEA recebam o atendimento especializado que precisam, especialmente em cidades menores ou regiões mais distantes dos grandes centros urbanos", relata Mariana Alves, mãe de um menino autista. Ela acrescenta: "A falta de profissionais capacitados em várias especialidades, como fonoaudiologia e terapia ocupacional, é um obstáculo que enfrenta muitas mães como eu."
Além disso, a escassez de recursos para tratamentos, que exigem acompanhamento contínuo e multidisciplinar, como a análise do comportamento, pode resultar em tratamentos insuficientes ou até em períodos de interrupção nos cuidados. Embora o governo tenha regulamentado a oferta de serviços como terapia comportamental (ABA), que é essencial para o desenvolvimento de muitas crianças com autismo, a implementação dessa regulamentação é inconsistente e varia bastante entre os estados e municípios.
A Educação e a Inclusão Escolar
A educação inclusiva é outro direito fundamental que as mães buscam para seus filhos com TEA. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), de 2015, garante o direito de crianças com deficiência, incluindo o autismo, à educação escolar em escolas regulares, com as devidas adaptações e apoio especializado. No entanto, muitas mães enfrentam dificuldades para garantir que seus filhos sejam efetivamente incluídos nas escolas regulares.
"O processo de inclusão escolar é um verdadeiro desafio. Embora a legislação assegure o direito de matrícula, a realidade nas escolas públicas muitas vezes é outra. Não há suporte pedagógico adequado, os professores não estão preparados para lidar com as especificidades do autismo, e a resistência por parte de alguns gestores e educadores é constante", explica Letícia Souza, mãe de um adolescente autista.
A falta de formação adequada para os profissionais de educação, a escassez de apoio especializado nas escolas e a resistência de algumas instituições em adaptar seus métodos de ensino são desafios que comprometem a efetividade da inclusão. Isso gera sofrimento para as crianças e suas famílias, que muitas vezes se veem obrigadas a procurar soluções alternativas, como escolas particulares ou a educação domiciliar, caso possam arcar com os custos.
A Burocracia e os Obstáculos no Acesso a Benefícios Sociais
Além das dificuldades no acesso a serviços de saúde e educação, as mães de crianças com autismo enfrentam ainda obstáculos significativos no acesso a benefícios sociais essenciais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que assegura um salário mínimo para famílias de baixa renda com filhos com deficiência. O processo para obter esse benefício envolve uma burocracia complexa, que muitas vezes exige documentação difícil de ser conseguida e longos períodos de espera.
"Demorou mais de um ano para que meu filho tivesse direito ao BPC. Durante esse tempo, tivemos que enfrentar uma série de etapas burocráticas, além de recursos que foram negados injustamente. O sistema é difícil de navegar, e muitas famílias acabam desistindo", compartilha Rosa Martins, mãe de uma criança com TEA que passou por esse processo.
A falta de orientação clara para as famílias, a morosidade nos processos e a complexidade da documentação necessária são barreiras que dificultam o acesso a benefícios que seriam fundamentais para aliviar a carga financeira das famílias com filhos autistas. Muitas mães acabam se sobrecarregando com o peso financeiro de pagar por terapias, consultas e exames, enquanto aguardam uma resposta do governo.
A Necessidade de Políticas Públicas Mais Inclusivas
Apesar de avanços na legislação e de uma crescente conscientização sobre as necessidades das pessoas com autismo, o sistema de serviços públicos ainda não está totalmente preparado para atender de maneira eficaz as crianças com TEA e suas famílias. A implementação de políticas públicas mais inclusivas, que priorizem o atendimento especializado desde o diagnóstico até o acompanhamento ao longo da vida, é fundamental.
Para que as mães possam garantir os direitos de seus filhos, é imprescindível que haja uma integração entre os diferentes setores do serviço público, como saúde, educação e assistência social. Além disso, é urgente a formação de profissionais que possam atuar diretamente com as necessidades específicas das crianças autistas, tanto nas escolas quanto nas unidades de saúde.
"O autismo precisa ser entendido como uma questão de direito, e não como um favor. Não podemos mais esperar que cada mãe tenha que lutar sozinha pelos direitos de seus filhos. É necessário que o Estado garanta a implementação de políticas públicas efetivas e de apoio real às famílias", afirma Ana Clara Silva, psicóloga e ativista pelos direitos das pessoas com autismo.
Conclusão
As mães de crianças autistas enfrentam uma batalha diária pela garantia de direitos essenciais, como o acesso a serviços de saúde, educação de qualidade e benefícios sociais. Apesar de avanços na legislação, a implementação dessas políticas ainda é desigual e enfrenta obstáculos significativos, como a falta de recursos, a formação inadequada de profissionais e a burocracia excessiva.
Para que as crianças com TEA e suas famílias tenham suas necessidades atendidas de forma eficaz, é necessário um compromisso real por parte do governo em melhorar o acesso aos serviços públicos e garantir que as políticas de inclusão sejam aplicadas de maneira efetiva e uniforme. A luta pela garantia de direitos não deve ser uma batalha isolada das mães, mas uma causa coletiva que envolva a sociedade e o Estado em prol de um futuro mais inclusivo para todos.
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