Justiça

"A advocacia brasileira pode terminar menor quando tudo isso acabar", Sakamoto

Advogados de golpistas atacam STF, falam de si mesmos e passam vergonha


Foto: DivulgaçãoAdvogados trapalhões
Advogados trapalhões

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no DCM  

Advogados de réus dos atos golpistas do 8 de janeiro gastaram tempo precioso de seus clientes no julgamento no STF, nos últimos dois dias, para se promover ou gerar conteúdo que viralizou nas redes bolsonaristas. Podem não tê-los ajudado a reduzir a pena, mas certamente devem conseguir seguidores.

O ex-desembargador Sebastião Coelho, advogado do primeiro condenado, Aécio Costa Pereira, usou a tribuna para acusar o Conselho Nacional de Justiça de perseguição por abrir uma investigação contra ele sob a justificativa de incitar atos golpistas. Disse que disponibilizaria o Imposto de Renda e extratos bancários, que não tem nada a esconder, que não se intimida com nada, que é um homem idoso, que tem probleminhas de saúde e pode morrer a qualquer hora.

Ainda criticou Alexandre de Moraes e avisou aos ministros do STF que eles eram “as pessoas mais odiadas desse país”.

O advogado Hery Kattwinkel, que representa Thiago de Assis Mathar, o segundo condenado, apelou e falou que os filhos de seu cliente buscam o pai como uma “estrelinha” no céu porque acham que ele morreu – o réu está preso desde a tentativa de golpe. E que sua única “arma” era a bandeira do Brasil.

Também criticou Moraes e usou frase falsamente atribuída ao ministro Luís Roberto Barroso (“eleição não se ganha, se toma”), uma conhecida fake news, para embasar um ataque ao STF.

Como vergonha pouca é bobagem, ele ainda atribuiu uma frase de “O Príncipe”, de Maquiavel, pai da ciência política a “O Pequeno Príncipe”, um livro infantil escrito por Antoine de Saint-Exupéry. Sim, os fins justificam aquilo que cativas.

“É patético e medíocre que um advogado suba à tribuna do STF com um discurso de ódio, com um discurso para postar depois nas redes sociais. Porque veio aqui para agredir o STF, talvez pretendendo ser vereador no ano que vem”, afirmou Moraes.

“Hoje os alunos que vieram ver a sessão, tiveram uma aula do que um advogado constituído não deve fazer para prejudicar o seu constituinte e fazer uma média com os ‘patriotas'”, disse.

O repórter Paulo Roberto Netto, do UOL, apurou que havia um defensor público preparado para defender o terceiro réu, Matheus Lima de Carvalho Lázaro, mas na véspera do julgamento a advogada Larissa Araújo retomou o caso. A Defensoria Pública havia assumido após a defesa, veja só, perder o prazo para de manifestar no processo.

Araújo foi às lágrimas ao implorar aos ministros pela absolvição de Matheus, tentando vender a ideia de que ele foi vítima de uma “lavagem cerebral” e que seu cliente falava muita “bobagem”.

Ele, que serviu como soldado no Exército, enviou mensagens à esposa após invadir o Congresso. Dizia que era necessário “quebrar tudo, pra ter reforma, pra ter guerra”, para o “Exército entrar” e fazer uma intervenção.

Antes de começar sua sustentação oral, ela gastou tempo do cliente para também falar de si mesma. Contou sobre sua primeira visita ao STF, disse que naquele momento percebeu que era “ministra que eu quero ser quando crescer, quando me formar”. A partir daí, começou a criticar o tribunal, reclamou que foi supostamente ignorada por um representante do MPF…

A intervenção de Araújo foi tão ruim que Moraes, quando tomou a palavra, afirmou: “a Defensoria Pública fez um brilhante trabalho e faria a sustentação oral, mas aí a advogada retornou”.

Foram três réus. Faltam centenas. Se a tribuna continuar sendo tratada como live de rede social, a advocacia brasileira vai terminar menor quando tudo isso acabar. Mas o bolsonarismo pode ter novos candidatos às eleições.

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