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UFPI, uso de drogas e o governo Bolsonaro

UFPI, uso de drogas e o governo Bolsonaro

Foto: GoogleUFPI
UFPI

Drogas leves, como a maconha, deveriam ser descriminalizadas e ter o consumo legalizado. Drogas pesadas, como o crack e outras, deveriam ser tratadas como caso de saúde pública com o usuário recebendo do Estado não a repressão, mas os cuidados médicos necessários. O governo Bolsonaro tinha como grande meta a aprovação do que ele chamou de “Nova Previdência”. Apesar de ainda faltar o segundo turno na Câmara e o trâmite no Senado o projeto já passou pela prova de fogo – primeiro turno na Câmara. Feito isso, dizem os analistas políticos, o governo Bolsonaro voltará suas atenções para outro projeto: a entrega das Universidades públicas para a iniciativa privada. O governo Bolsonaro não usa argumentos técnicos e científicos para defender seus projetos. Ele toca o terror. No caso da Previdência, comprou a imprensa para que rotineiramente se informasse do “déficit” nas contas governamentais “causados” pelos benefícios previdenciários. Com muito dinheiro público, “convenceu” os deputados. No caso das Universidades já se imagina o que vem por aí. Bolsonaro não perde uma oportunidade de criminalizar o ensino público superior. Propositalmente ou não, a Universidade Federal do Piauí, através de um ato de um professor, pode estar dando o “argumento” que o Bolsonaro deseja para a entrega do Ensino Púbico Universitário à banca econômica. Para ajudar a audiência do pensarpiauí no entendimento dos fatos lançaremos mão de uma matéria escrita por Edrian Santos do co-irmão OitoMeia, sobre o assunto: "Professor compara espaços da Ufpi à cracolândia em renúncia a cargo de coordenação O professor Silvio Henrique Barbosa, da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), em carta enviada aos alunos de Jornalismo da instituição, disse que renunciou ao cargo de coordenador de curso porque se sentia perseguido por um grupo de 15 alunos do Centro Acadêmico (Cacos). No texto, ele relata que as intimidações se intensificaram após marcar reunião com os pais dos estudantes para dizer que flagrou consumo de crack nas dependências do departamento onde atua. O documento foi enviado aos e-mails dos alunos na última quarta-feira (10/07). Uma fonte anônima repassou uma cópia ao OitoMeia. Em tom de desabafo, o professor chega a dizer que há estudantes que se opõem à luta dele contra a circulação de “drogas pesadas” no curso. “Flagrei o consumo de crack três vezes no Jornalismo [departamento]”, afirmou o docente paulista. “Torcendo aí para que o próximo coordenador e chefe de departamento não esmoreçam e sigam em frente, apesar de todas as pressões, calúnias e difamações nas redes sociais, para que os espaços do Jornalismo usados como boca de fumo possam voltar a ser utilizados pelos alunos que não utilizam a Ufpi para se drogar, mas para estudar, em busca de crescimento na vida. Como professor, com alunos de 17 anos, torço para que a Ufpi não se transforme na Cracolândia de Teresina”, contou Silvio. Leia a carta na íntegra ao final da reportagem. “CAPITALISMO CRUEL” Por telefone, o OitoMeia conversou com Silvio, que reafirmou ter presenciado o consumo de crack na área de vivência do curso de Jornalismo da Ufpi. Para ele, desistir do cargo de coordenação é uma tentativa de amenizar “ataques semanais” que sofria do grupo de 15 alunos do CA. O professor ainda argumentou que a sua desistência pode diminuir perseguições a futuros coordenadores e chefes de departamento. “Se algumas pessoas querem usar drogas, elas que façam, privadamente, fora da universidade. Em algum momento, surgiu essa ideia de que a universidade pública é um local para se usar drogas. Não é. Isso é um erro. É uma falha muito grave, inclusive do traficante que bate nessa tecla de democracia para se apropriar dos nossos alunos como consumidores. Isso é um sistema capitalista cruel, pois ele quer lucrar à custa da destruição do caráter dos nossos alunos, da saúde dos nossos alunos, da vida dos nossos alunos”, argumentou Silvio. ALUNOS APONTAM ASSÉDIO MORAL Na manhã desta sexta-feira (12/07), o Centro Acadêmico de Jornalismo divulgou uma nota de repúdio ao professor, rebatendo as alegações de que os membros da entidade tenham conspirado contra o mesmo. O Cacos cita que Silvio chegou a responder por 10 processos de assédio moral a estudantes, antes mesmo de se tornar coordenador de curso, e que não cumpria com as suas obrigações enquanto estava à frente da Coordenação. Como exemplo, foi citado um episódio em que uma formanda não colou grau porque o docente não validou as horas complementares dela. “Criminalizar um espaço de convivência pacífico não era suficiente para o professor. Este registrou um boletim de ocorrência (BO) contra um aluno que se manifestou, de forma pacífica, com um cartaz. O cartaz dizia o seguinte: “Se o crack vicia, a ignorância mata.” De acordo com a interpretação do professor, isso se configurava como uma ameaça de morte a ele. Diante dessa situação, foi movido um processo pedindo o afastamento do docente do cargo de coordenador pelo Centro Acadêmico”, diz a nota. Leia a íntegra ao final desta reportagem. UFPI ACIONA POLÍCIA FEDERAL A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da administração superior da Ufpi, informando que o Centro de Ciências da Educação (CCE) poderia se pronunciar. O professor Luís Carlos, diretor do CCE, informou que tomou conhecimento das alegações do professor e que Silvio formalizou uma denúncia sobre o consumo de crack e outra sobre uma suposta ameaça de morte, segundo a interpretação do docente, que se relaciona à frase “Se o Crack vicia, a ignorância mata”. “O chamamento de polícia, em questões relacionadas a drogas, é de responsabilidade do reitor. A universidade entrou em contato com a delegada da Polícia Federal para ver essa questão das drogas na universidade. Então, a administração superior da universidade recebeu a denúncia feita pelo próprio professor [Silvio]”, explicou Luís Carlos, reafirmando que as denúncias ainda seguem em apuração. Sobre as supostas ameaças, o diretor informa que se trata de uma interpretação subjetiva do professor. “Aí você vê uma frase, pode interpretar como ameaça, mas entra no campo da subjetividade”, concluiu. LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA ENVIADA PELO PROFESSOR SILVIO, aqui LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DO CENTRO ACADÊMICO DE JORNALISMO, aqui No Facebook, os professores da UFPI reagem:  

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