Política

Regina Sousa x Joice Hasselmann, e a luta de classes

Regina Sousa x Joice Hasselmann, e a luta de classes

  • quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Um mulher, um juiz e um recurso do Google. Uma mulher sulista e da elite, branca, grava um vídeo com graves xingamentos contra uma senadora piauiense, negra e de origem pobre. E a Justiça? Então quer dizer que o Google tem posição política? Ou estava lutando pelo combate à censura e pelo direto à liberdade de imprensa? E o direito humano? Diz-se que um direito começa quando termina outro. Não será o respeito à pessoa humana um direito maior a ser respeitado?
O blog Tijolaço repercutiu e não escondeu a indignação, a ponto de trazer como título: "Juiz: apresentadora pode xingar à vontade. E nós, podemos xingar o Doutor?". "É evidente, que o senhor, com todas os “data vênia” de estilo está, com sua decisão, subscrevendo o comportamento de alguém que se promove justamente com isso: com a detratação alheia, com a linguagem furiosa, com a apologia do ódio. ", disse o jornalista Fernando Brito – resonsavel pelo Tijolaço.
O dilema de repercussão nacional enfrentado por Regina Sousa contra a blogueira Joice Hasselmann é o verdadeiro reflexo de uma luta de classes que se perpetua no Brasil. A decisão da 8ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, na pessoa do desembargador Diaulas Costa Ribeiro, comprova isso. O que se vive hoje no Brasil é uma guerra política de direita (os privilegiados, a casta, os brancos e muito ricos) contra a esquerda (os oprimidos, os pobres, os negros).
É uma luta entre ricos e pobres, que traz uma série de preconceitos arraigados e até imperceptíveis para alguns. E que justifica discursos como os que foram proferidos contra a Miss Brasil eleita no último final de semana, coincidentemente, negra e do Piauí.
Aliás, há muito o Piauí sofre o estigma de “patinho feio” da nação Brasileira. Não foi à toa que em seu primeiro governo, Wellington Dias fez uma campanha para resgatar a auto-estima do piauiense intitulada: “Piauí é feliz quem vive aqui!”. No início do seu governo, em 2003, 39% da população afirmavam ter baixa estima e não tinham orgulho de ser do Piauí. Em 2009, pesquisa realizada pelo Instituto Piauiense de Opinião Pública (Amostragem), apontou que 86,28% dos piauienses tinham orgulho de ser do Piauí.
Em 2016, o jornalista Jeferson Miola, da Carta Capital. escrevia: “Iludem-se aqueles que dizem que a luta de classes acabou. Ela segue bem vigente, e adquire formas e métodos fascistas no Brasil. O sistema político brasileiro está de pernas pro ar. Quem dá as cartas não é o governo ou a oposição; não é o sistema político, mas sim o condomínio jurídico-midiático-policial (...) “Eles têm ódio do Lula porque têm ódio do povo. Para eles, é insuportável ver o povo simples, negro e humilde viajando nos mesmos aviões que eles, frequentando as mesmas universidades que seus filhinhos mimados frequentam. Contra os fascistas e sua vilania, só a luta tenaz. A história do Brasil é pródiga em demonstrar que aqueles que resistiram e enfrentaram o fascismo venceram; e que aqueles que ou foram ingênuos ou desistiram, foram esmagados. Getúlio não ouviu a recomendação de Tancredo Neves, o avô do fascista Aécio e, ao invés de mirar o revólver em direção à oligarquia conspiradora, atirou no próprio coração. Jango, que não valorou com precisão a virulência golpista e não aceitou o apelo de resistência do Brizola, foi morrer no desterro. Brizola, ao contrário, intuindo a índole golpista, intolerante, racista e fascista da classe dominante, levantou barreiras pela Legalidade; e venceu. Este é um momento em que ou se resiste ou se é destruído. É a democracia que está em jogo”.
Em artigo publicado no jornal O Globo em julho criticando um curso de Esquerda do século XXI, Sérgio Vianna, presidente do Instituto Jardim Botânico, observou: “Sempre houve e sempre haverá uma direita e uma esquerda. Só que ambas devem se reinventar no século XXI. A direita, porque nem a crise ecológica, nem a juventude, nem as tremendas decisões éticas que a humanidade terá de tomar nas próximas décadas (nos dividiremos em mais de uma espécie? Haverá alguma governança global? etc.) suportam mais um sistema que subordina tudo à maximização da acumulação e que confunde liberdade do indivíduo com supremacia absoluta do mercado”.
O tema é tão atual que o cantor Chico Buarque lança no próximo dia 25 o seu novo álbum As Caravanas, uma crônica da luta de classes acirradas que acontece no Rio de Janeiro e no resto do País. Como diz Regina Sousa, em um momento de intensa fragilidade na tribuna do Senado ao comentar tal decisão, ""a emoção veio, mas
a coragem não acaba não. Só faz aumentar a minha coragem, a minha garra. E não vai ser ninguém que vai me transformar no que eu não sou". E vamos a luta.
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