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Fome no Brasil não é fruto da covid, mas das decisões do Governo Federal

O aumento da fome, nos últimos meses, está relacionado à redução no valor do auxílio emergencial e à interrupção de seu pagamento por 96 dias

Foto: You TubeFome

 

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no facebook

O aumento da fome, nos últimos meses, entre milhões de famílias brasileiras está diretamente relacionado à redução no valor do auxílio emergencial e à interrupção de seu pagamento por 96 dias por parte do governo federal.

Enquanto o custo médio da cesta básica de alimentos aumentou em 15 das 17 capitais em abril, segundo levantamento mensal do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o auxílio foi retomado com um piso muito menor que antes. Os R$ 150 compram, hoje, menos de 25% da cesta básica em Florianópolis, São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Na primeira onda da pandemia, o governo Jair Bolsonaro propôs um auxílio de apenas R$ 200, mas o Congresso Nacional forçou o aumento do valor, que passou a ser de R$ 600/R$ 1200 por domicílio. No segundo semestre, o benefício foi reduzido para R$ 300/R$ 600 por família.

Com essa redução, a fome já se aconchegou em muitos lares: 9% da população para ser mais exato, a maior taxa desde 2004. De acordo com pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional foram 19,1 milhões que passaram fome em um universo de 116,8 milhões que conviveram que não tiveram acesso pleno e permanente à comida.

E mesmo com os alertas de epidemiologistas de que haveria uma nova e grave onda de contágio, o governo federal interrompeu o pagamento em 31 de dezembro, retomando-o apenas em 6 de abril, após um hiato de 96 dias. Considerando que o levantamento foi feito em dezembro, o número de famintos provavelmente está subdimensionado.

Na retomada, o benefício passou a ser pago em parcelas de R$ 150, R$ 250 e R$ 375 mensais por domicílio.

A cesta básica mais cara, segundo dados divulgados este mês pelo Dieese, foi a de Florianópolis (R$ 634,53), seguida pelas de São Paulo (R$ 632,61), Porto Alegre (R$ 626,11) e Rio de Janeiro (R$ 622,04). Entre as cidades do Norte e Nordeste, a cesta com menor custo foi a de Salvador (R$ 457,56). Considerando o piso de R$ 150, isso representa 32,8% da cesta.

Nos quatro meses de 2021, as capitais com as maiores altas na cesta básica foram: Curitiba (8%), Natal (4,24%), Aracaju (3,64%), João Pessoa (3,13%) e Florianópolis (3,08%). Vale lembrar que o povo, além de comida e água, também paga aluguel, compra remédios, usa transporte público, tem gastos com celular.

A aprovação a Bolsonaro, que chegou a 37% em agosto do ano passado, passou a 31% em janeiro, 20 dias após seu governo suspender o auxílio emergencial, atingiu 24%, o menor valor de sua gestão, na última pesquisa Datafolha. Segundo o instituto, 55% das famílias que ganham até R$ 2.200 não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum em 2022. Entre os desempregados, 14,4 milhões de pessoas de acordo com a PNAD Contínua do IBGE, a aprovação do presidente é de apenas 16%.

Isso ajuda a explicar a razão dele estar realizando viagens pela região Nordeste, tentando convencer a população de que não tem responsabilidade pelo que está acontecendo na economia, apesar das ações e omissões de seu governo demonstrarem o contrário.

"Quero dizer a todos do Maranhão aqui que perderam seus empregos, não foi obra do governo federal. Quem fechou o comércio, obrigou vocês a ficar em casa e destruiu milhares de empregos foi o governador do seu estado", afirmou, nesta sexta (21), em evento no município de Açailândia.

A oposição e parte da base do governo no Congresso Nacional tentam, neste momento, aumentar o valor pago de auxílio emergencial. O governo, contudo, acena apenas com a extensão do benefício em valores insuficientes para uma família comer.

E dizendo-se preocupado com as contas públicas, cuja importância não se discute, acaba empurrando a fome dos outros com a barriga como prova de responsabilidade fiscal - e insensibilidade social.

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