Hugo Motta - um deputado infantil
Hugo Motta ficou atormentado quando alguém levou ao paraibano a intriga de que Haddad o considerava meio crianção

Por Moisés Mendes, jornalista, em seu blog
Direita e extrema direita gastaram todos os adjetivos depreciativos disponíveis no Brasil. Tratar alguém como infantil parece ser algo singelo e até fofo, diante dos palavrões que se repetem nas redes sociais.
Mas Hugo Motta ficou atormentado quando alguém levou ao paraibano a intriga de que Haddad o considerava meio crianção. Foi aí que a ruptura do presidente da Câmara com o governo teria se esgarçado.
Por que se incomodar com uma definição aparentemente sem gravidade? Porque Motta é um inseguro. Sabe que não será um Arthur Lira e deve imaginar que, se for subserviente à turma barra pesada da Câmara, pode virar um Eduardo Cunha.
Atribuíam a Cunha forte ascendência sobre pelo menos 80 deputados, em meio à montagem da engrenagem que iria golpear Dilma em 2016. Cunha protegia sua turma, repassava dinheiro para as campanhas e dava conselhos.
Era um pai para muita gente. Foi pisoteado e morto pelos próprios filhos, duas semanas depois da consumação do golpe contra Dilma pelo Senado.
Foi cassado sob o pretexto dos parceiros de que mentiu que não tinha contas no exterior. Tombou, com 450 votos a 10, porque não podia oferecer mais nada e, se ficasse vivo, se transformaria em estorvo.
Foi o mais sacrificado pela maldição que persegue ex-presidentes da Câmara. Em 2022, reabilitou os direitos políticos para poder concorrer e fez 5.044 votos na tentativa de voltar a ser deputado por São Paulo.
Motta pode dizer que tem o que Eduardo Cunha não tinha. Histórico familiar, curral com base orgânica poderosa, bons padrinhos em Brasília e zero de conflitos com as facções da direita.
Além do que preside a Câmara numa situação nunca vivida antes, com o poder da casa sobre as emendas e, com maioria folgada, a capacidade de acossar e sabotar o governo.
Mas ser chamado de infantil incomoda quem não quer ser visto como o estagiário de Lira que chegou ao mais alto posto. Motta é visto como infantil por ter encaminhado e não ter cumprido com o governo um acordo que adiava decisões sobre o decreto do IOF.
E porque, a partir do rompimento do que havia sido acertado, expôs sua submissão aos mais velhos e espertos, como um comandante da Câmara comandado pelos bandos que cercaram Lula.
No vídeo que produziu para se defender e foi divulgado no Jornal Nacional na quinta-feira, Motta diz: “Quem alimenta o nós contra eles acaba governando contra todos”.
O deputado acha que Lula está apostando na “polarização social”. Mas deixou claro, no que foi a linha do JN do começo ao fim, que a moderação defendida por ele e pela Globo significa mais ataques ao governo.
O presidente da Câmara estava com uma camiseta branca do Flamengo. Falava sobre um assunto grave, mas procurou ser esportivo e despojado, como se estivesse na torcida e ao lado do povo do clube mais popular do país.
Motta poderia ser mais um simplório da direita, como são o próprio Bolsonaro, os filhos dele, Sergio Moro, Deltan Dallagnol, Nikolas, Damares, Magno Malta e todos os que se dirigem aos brasileiros como crianças cruéis falando para outras crianças.
Essa semana, a juíza Simone Ribeiro Chalela, da 2ª Vara Judicial de Canela, na Serra gaúcha, disse na sentença em que condena Luciano Hang por ofensas ao arquiteto Humberto Hickel, que o empresário foi, além de agressivo, “infantil e irresponsável” ao fazer um vídeo em que chama o ofendido de esquerdopata que deve ir pra Cuba.
Motta é dessa turma de infantilizados. Define-se como de centro, o que hoje não significa nada. Tem todo o jeito de um ser infantil, tratado como tal pelos próprios colegas, desde muitos antes da crise do IOF. Usar a camiseta do Flamengo não ajuda.
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