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Corte de oportunidades

Corte de oportunidades

Foto: Arquivo PessoalDaniel Ribeiro
Daniel Ribeiro

Por Daniel Ribeiro, professor IFPI Um sociólogo, um torneiro mecânico e um militar.

Uma decepção, uma esperança e um temor. Os países de primeiro mundo tiveram na educação, e, sobretudo no ensino superior, o principal alicerce pra chegar ao nível de desenvolvimento pessoal e econômico que atingiram. Em se tratando de nosso país, na pessoa de um doutor em Ciências Sociais, avanços insignificantes, tímidos, muito aquém da expectativa. Na pessoa de um torneiro mecânico, dito por muitos um analfabeto (e de sua sucessora, de mesma linha política partidária), oportunidades oferecidas, vitórias conquistadas.

Todas as classes sociais, raças, credos e gêneros premiados com a universalização do ensino, principalmente o superior, interiorização dos Institutos Federais, programa Ciências sem fronteiras, financiamento estudantil, profissionalização docente, graduações e pós-graduações – como o mestrado PROFMAT, que tenho a imensa honra de ter cursado e concluído com êxito. A Educação passou a ser uma luz no fim do túnel na busca da redução de desigualdades que galopavam por décadas.

Na pessoa de um militar, que diz colocar a fé acima de tudo, vem o temor. Temor que aos poucos vira pesadelo. Uma horda de incomodados com as oportunidades dadas a todos, indistintamente, que engoliam a seco ao ver o filho do jardineiro na mesma faculdade que o seu, encontraram força pra externar todo preconceito retraído por anos, e por meio de uma campanha manchada por mentiras e fake news, levam ao Executivo Federal um dos piores quadros do Congresso Nacional; que, em 30 anos de casa, apenas demonstrou total inoperância legislativa e incapacidade de diálogo e de respeito às diferenças.

O Ministério da Educação virou uma balbúrdia, veio um filósofo de idiotas que descolou um colombiano inerte (!) e por fim um executivo do mercado financeiro (!!). O que começava a criar asas toma uma via única de retrocesso e decide voltar a estaca zero. Um corte (contingenciamento?) de 30% do orçamento de custeio e manutenção (e não de investimentos, como alguns tentam usar pra justificar) inviabiliza qualquer campus de instituições públicas federais de ensino. Escorregam pelas mãos não apenas 3 ou 3,5 bombons, como quis ser didático, mas acabou sendo apedeuta o ministro.

Vai embora uma gama de oportunidades como bolsas de incentivos aos discentes, vai embora um conjunto de pesquisas nas mais diversas áreas (tecnologia, saúde, meio ambiente), vai embora o trabalho de centenas de terceirizados responsáveis por segurança e zeladoria, vai embora aquilo q vinha buscando apagar a mancha secular da desigualdade social: educação e emprego. Vai embora a oportunidade de uma educação capaz de mudar o futuro.

Ah...  Mas em compensação, vem a liberdade no uso de armas, sob o pretexto de proteção e segurança da família, missão do Estado. A bala agora perfura o caderno e o lápis, na formação do caráter (des)humano do brasileiro. Talvez demolir faculdades e inaugurar cemitérios no lugar, agrade os seguidores, que ainda esperneiam e berram defendendo o indefensável, todos colecionando seus antolhos.

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