Pensar Piauí

Caos institucional

Caos institucional

Sendo direto, breve (?) resumo:
A presidenta eleita foi deposta, sem crime, em um golpe parlamentar/jurídico/midiático.
O presidente da Câmara Federal, após aceitar fazer parte do jogo - e liderar o golpe, ao fazê-lo - foi derrubado, por corrupção, pelos próprios colegas de golpe.
O presidente do Senado Federal foi (bem, está se tentando que seja) afastado por ser réu em processo por corrupção.
O Judiciário briga entre si em todas as esferas, briga com o legislativo e mina o fiapo de governabilidade que existe - de propósito ou não.
O presidente do Senado não aceita ser afastado, se recusa a obedecer uma ordem do Supremo e diz "daqui não saio".
O Supremo vai se reunir para saber o que fazer com a ordem de saída não aceita pelo presidente do Senado: se concordar com a saída, cria grave problema com a Mesa Diretora da casa; se discordar da saída, gera crise jurídica sem precedentes no país.
A mídia alimenta o mito dos justiceiros intocáveis que, apesar de super-salários e indícios de abuso de poder, estariam "limpando o Brasil".
A oposição ao governo golpista não tem nenhum plano de curto e médio prazo que não seja existir, seja como for.
O executivo - vamos colocar também os Estados - empurra goela abaixo do povo medidas impopulares, afrontando direitos constitucionais.
Uma parcela da sociedade vai às ruas apoiando uma parte do judiciário que quer poderes acima do razoável e apoia inclusive intervenção militar porque não aguenta mais "corrupção" sendo que identifica "corrupção" como PT; se cair o presidente do Senado assume um senador do PT.
Uma parcela da sociedade vai às ruas tentando evitar perda de direitos constitucionais que executivo e legislativo, que caem pelas tabelas com acusações de corrupção, tentam impor à população, sendo que esses poderes são vasculhados por parte do judiciário que se julga acima de todos, moral e eticamente, apesar de denúncias de super-salários (portanto, uma variação de corrupção) e abuso de poder.
A mídia segura o executivo que ascendeu através de um golpe parlamentar e jurídico apoiado por ela, a mídia; porém a mídia ataca o legislativo, apoia essa parcela do judiciário enquanto, aos poucos, colabora na fritura do chefe do executivo que ela, mídia, ajudou a ascender.
A mídia constrói a imagem de "vândalos" e de "gente contra o Brasil" de grupos que buscam garantia de manutenção de direitos constitucionais; ao mesmo tempo insufla movimentos que flertam com a ditadura (alguns nem flertam, beijariam na boca agora mesmo) e que apoiam a redução de direitos constitucionais.
A mídia apoia abertamente ações de repressão violenta aos grupos e movimentos sociais que vão às ruas tentando garantir a não retirada de direitos constitucionais; ao mesmo tempo a mídia constrói a imagem de que grupos que apoiam a intervenção militar e a parcela do judiciário que tem denúncias de abuso de poder são ordeiros, justos, incorruptíveis, pacíficos, são "a família brasileira".
O meu amigo André Gonçalves, fez acima, no facebook, o que chamou de “breve (?) resumo”.
- Eu diria, André, que para dar certo o afastamento da presidenta Dilma, se ultrajou instituições e se desrespeitou o ordenamento jurídico do país. Era imperioso tirar Dilma de lá. Valia abraçar-se a Eduardo Cunha (mesmo todos sabendo quem era) e punir Dilma por algo que todos os chefes de executivo faziam. O homem e a mulher para viverem em sociedade precisam de regras. Aqui no Brasil vínhamos, coletivamente, construindo as nossas. De repente, a opinião e necessidades particulares e de grupos passou a prevalecer. Grave! Muito grave isso. Como bem disse o juiz Rubens Casara "Vivemos um momento em que nada possa ser tido como mais importante que a satisfação dos desejos/perversões da parcela da sociedade que detém os poderes econômico/político." O Brasil vive um momento de deflagração de conflitos generalizados. É preciso que atores sociais apareçam para reescrever novos pactos político e social de forma consensual. Se não, a barbárie estará logo ali.

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