Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Um feliz ano gasto

Foto: ReproduçãoAno gasto
Ano gasto

 

Historicamente, a comemoração do Ano Novo, no ocidente, teve origem com um decreto do governador romano Júlio César, que fixou o 1º de janeiro como o Dia do Ano-Novo em 46 a.C. Desde então, os romanos dedicam esse dia a Jano, o deus dos portões.

Todo fim de ano é assim: intenções sem ações, promessas a não cumprir e velhas práticas com expectativas de mudanças. Ora, ninguém muda a vida com a virada de ano, sem mudar as atitudes, as ações e os vícios, ou apenas queimando fogos ou fazendo juras do mais do mesmo. Ou seja, não é o ano de 2022 que tem que ser diferente, mas você que tem que se disciplinar – lógico, há aqueles que, de fato, conseguem mudar a sim mesmos e o mundo.

Um feliz ano gasto é querer mudar o corpo com as mesmas práticas, ou desejar sem planejar a conquista, ou querer sem iniciativa ou cogitar voar preso ao marasmo. Assim, mais do que aspiração é fundamental ter uma ação proativa com inteligência no dia a dia.

Todo fim de ano, as superstições e falsas promessas prevalecem na maioria das falas e gestos, como um faz-de-conta no pensamento do senso comum, que funciona como um antídoto temporário à dureza da realidade, aos sofrimentos e às angústias de um ano inteiro.

Em geral, dentre as promessas de Ano-Novo mais comuns estão: cuidar da saúde corporal, estudar mais, comer melhor, se desenvolver em algo, cuidar da saúde mental ou do sono, parar de fumar, mudar o que consome e melhorar o controle das finanças pessoais etc.

Mas, os vícios não findam sem mudança de hábitos, sem atitudes proativas e disciplina. Isto é, sem foco total, sem se fastar das distrações – p.ex. celular, TV e computador –, sem definir a meta, sem foco no objetivo, sem autorrecompensa pelas vitórias e, 

principalmente, sem persistência na vitória. Pois, de boas intenções o mundo está farto, cansado e mediocrizado.

Um feliz ano gasto é aquele em que se dorme e se acorda como se nada tivesse acontecido, e apenas se produz o mais do mesmo. É como se vivêssemos num eterno passado ou andando em círculos, gerando ainda mais frustações naqueles movidos somente por intenções e falsas promessas de fim de ano.

Um feliz ano gasto pode ser colorido por sorrisos artificiais, abraços etílicos e por milhares de fogos de artifícios, iluminando o céu com infindáveis superstições inconsequentes e esperanças vãs, da boca para fora.

Todavia, um feliz Ano Novo, também, se faz com roupas velhas, pois a roupa nova rejuvenesce a aparência e não é fonte da essência. Contudo, não basta querer, já que querer não é poder, mas prenúncio de uma vontade. Portanto, é fundamental ter atitudes de mudança, de transformação, de dentro para fora, pôr a intenção em ação. É preciso muito amor-próprio regado de coragem, empatia, comunhão e gratidão.

Um feliz Ano Novo é possível, necessário e pode se realizar com uma mudança de pensamentos e atitudes, com desapegos, com valores éticos e morais ressignificados, com uma consciência política e através de uma educação para além do ENEM. Do contrário, teremos mais um feliz ano gasto como produto da mesmice, do reclamar sem mudar, da apatia nossa de cada dia, do comodismo incrustado, da inveja alheia e da cronificação de uma vidinha estática.

A realidade não é assim, ela está assim porque nos comportamos como espectadores, esperando um salvador da pátria que nos tire do ócio improdutivo. Não é uma virada de ano que muda a nossa vida, mas, uma atitude proativa, rompendo com o mais do mesmo e o ciclo vicioso do nada a lugar nenhum. Portanto, se fores o mesmo de ontem, o teu Ano Novo será um feliz ano gasto.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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