Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Teresina: à beira de uma crise

Foto: PMTTeresina
Teresina

Próximo de completar 171 anos de história, Teresina –a capital do Piauí, a única capital nordestina que não é banhada pelo mar e a primeira capital brasileira a ser planejada – está à beira de uma crise existencial, devido à inércia política e administrativa diante da dinâmica das transformações sociais.

Para Zygmunt Bauman (2007), a sociedade atual se caracteriza pela liquidez, volatilidade e fluidez, onde asrelações e acontecimentos não são feitos para durar, mas rápidos, em constante mudança e não conservam sua forma por muito tempo: “sociedade líquida”. 

A cidade já foi o centro de referência do estado, mas ao longo das últimas quatro décadas tem perdido esse status por não mais acompanhar as transformações mundiais, nacionais e locais – p.ex. a renovação da matriz energética em curso –, de “gestões mais do mesmo” – sem planejamentos e sem inovações –, de visões políticas ultrapassadas e do acabrunhamento intelectual piauiense, que “assiste a tudo em cima do muro” (Cazuza, 1988).

Zygmunt Bauman explica que a sociedade líquida é desregulamentada, o mercado é aquilo que dita as regras e as regras do mercado são ditadas pelo objetivo econômico capitalista: a aniquilação dos concorrentes e o sucesso com os consumidores. E, para ter sucesso fluído e ser visto com um consumidor débil na sociedade líquida, muitas pessoas têm feito o inimaginável com seus corpos e mentes, até se esvaziarem de ética, de moral e do sentido da vida.

Nesse contexto, milhares de teresinenses tendem a entrarem em um estado de desesperança e letargia, gerando ansiedade, insatisfação, insônia, estafa mental, pessimismo, pensamentos intensos sobre a morte, violência e uma vontade de se isolar – p.ex. o sucessoimobiliária de condomínios fechados. E, mesmo assim, insistem no tradicional corte do bolo, na praça do bairro Poty Velho, local onde ficava a antiga Vila do Poty.

O mundo vive guerras, terrorismo, fechamento de fronteiras, fome, miséria, polarização de posicionamentos e projetos de sociedade que têm como bases, além de interesses econômicos, divergências culturais e políticas. Em Teresina, experimentamos um ciclo de vereança que deixou de legislar para mendigar favores escusos e sobreviver de restos parasitários de um passado carcomido, que pesam feito chumbo sobre a estrutura produtiva da cidade.

No sul do estado, a agroindústria da soja impõe uma reconfiguração social, territorial, política, econômica e energética da região. No norte, Parnaíba está se reestruturando para intercambiar comércio e serviços com parte do Maranhão e do Ceará, além de ser um atrativo turístico da região. Assim, em breve, essas duas regiões passarão a exigir uma mão-de-obra qualificada, atraindo mais pessoas, inclusive de Teresina.

Enquanto isso, os intelectuais de bastidores, como partícipes de uma esquizofrenia local e alheios a produção de pobreza permanente, fazem críticas veladas, tomando suas “verdinhas” e cheios de ideias etílicas pra dá, que em nada ajudam a construir um debate sobre um projeto de criar uma “nova cidade”. 

Por um lado, muitos candidatáveis a prefeito falam em “cuidar da cidade”, de “amor a Teresina”, de “pensar a cidade”, de “se preocupar com o povo” e se apoiam em “lembranças nostálgicas da cidade”, mas sem nunca apresentarem um diagnóstico, sem debaterem a cidade e sem conhecerem os reais problemas. Logo, todas as propostas serão um tiro no escuro e no coração do futuro da cidade.

Por outro lado, ainda há esperança, mesmo que o tempo não pare, para tirar a cidade da crise existencial: um debate aberto nos levará ao diagnóstico clínico.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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