Wellington Soares

Um país de poucos leitores

A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” revela que o Brasil perdeu quase 7 milhões de leitores nos últimos 4 anos


Reprodução Um país de poucos leitores
Um país de poucos leitores

Não foram simples dados de pesquisa, mas um jab certeiro nos que labutam na educação neste país. Números terríveis, decepcionantes que deixam o país estatelado no chão. Pior ainda: sem compreender a dimensão do desastre e corroído por um sentimento de culpa. Difícil levantar, convenhamos, ao saber que nosso povo está lendo cada vez menos. Que o número de não leitores (53%) superou, pela primeira vez, a quantidade de leitores (47%) – não importando se livros impressos ou digitais, tampouco o gênero. Quando compreende o livro inteiro, lido na íntegra, esse percentual se reduz para 27% dos brasileiros. É o que aponta a 6ª pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL) em 2024, englobando 5.504 entrevistados e 208 munícipios.

Não bastasse isso, o levantamento destaca que o Brasil, nos últimos quatro anos, perdeu quase 7 milhões de leitores, com redução em todas as classes sociais, faixas etárias e níveis de escolaridade. Retroagindo a 2015, o total chega a lamentáveis 11,3 milhões a menos. Ou seja, uma catástrofe sem tamanho, levando tempo para ser remediada. Aspecto que chama atenção também, segundo a pesquisa, é que a escola deixou de ser, como foi outrora, a fonte principal de indicação de leitura. Preocupa ainda a queda média de livros lidos por ano, que passou de 4,95 títulos (2020) para 3,96 (2024), a mais baixa da série histórica. Não há nada de bom a destacar nessa radiografia? Sim, que as mulheres (49%) continuam a ler mais do que os homens (44%), apesar da queda.

A situação é tão preocupante que até a Bíblia, maior best-seller mundial, perdeu leitores. Quanto às regiões do Brasil, todas sofreram baque, exceto o Centro-Oeste, que teve um leve aumento de 1%. Nosso querido Nordeste, infelizmente, fica na última posição nesse quesito: somente 43% da população curtem o saudável hábito da leitura. A pole position continua ocupada pelo Sul, com 53% de leitores. Vale a pena destacar os principais fatores, para matar a curiosidade, que influenciam a compra de um livro: tema (52%), título (27%), autor (20%), recomendação de amigos ou familiares (17%), preço (15%), capa (12%) e indicação de professores (10%). Entre os que pouco contam, embora se pense o contrário, estão os clubes de leitura (1%), influenciadores digitais (3%) e propaganda ou anúncio (4%).

Na lista das 25 obras literárias mais citadas, incluindo nacionais e estrangeiras, despontam O menino maluquinho, de Ziraldo, O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, Dom Casmurro, de Machado de Assis, a série Harry Potter, de J. K. Rowling, Capitães da areia, de Jorge Amado, e A cabana, de William P. Young. Mas o que alegam as pessoas, você deve estar se perguntando, para largarem a leitura? A principal justificativa, disparada, é a falta de tempo (46%). Em segundo, com 9%, vem a preferência por outras atividades (celular, TV). Não ter paciência (8%) e sentir cansaço para ler (7%) surgem logo após.

De qualquer maneira, com esses dados avassaladores, o soco foi duramente sentido. Restando-nos agora, como diz a música, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Num grande mutirão pela leitura, envolvendo a todos indistintamente – governos, pais, educadores, livreiros, escritores, artistas, escolas, universidades, igrejas e organizadores de feiras literárias. Afinal, muitos homens e mulheres iniciaram uma nova vida, como bem disse Henry Thoreau, a partir da leitura de um livro.

Siga nas redes sociais

Deixe sua opinião: