Meio Ambiente

Saiba quem são Plínio Valério e Marcos Rogério, senadores que agrediram Marina Silva

Eles são bolsonaristas e defendem interesses privados


Foto Marina: Isabella Balena. Outras: reprodução Saiba quem são Plínio Valério e Marcos Rogério, senadores que agrediram Marina Silva
Quem defende a natureza? Quem defende interesses privados

Os senadores Plínio Valério (PSDB-AM) e Marcos Rogério (PL-RO) ganharam destaque nacional mais uma vez ontem, ao protagonizarem agressões verbais contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante uma sessão tumultuada no Congresso Nacional. A ministra compareceu à Casa para prestar esclarecimentos sobre políticas ambientais, mas foi interrompida e hostilizada por Valério e Rogério, críticos contundentes da atuação de organizações socioambientais na Amazônia.

O episódio gerou ampla repercussão política. Parlamentares da base do governo e de partidos ambientalistas classificaram a conduta de Plínio como "desrespeitosa" e "misógina". A líder do PSOL na Câmara, Sâmia Bomfim, afirmou que a agressividade expressa não só desprezo pela ministra, mas também pelas pautas ambientais e pelas populações amazônidas. Já a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), aliada de Marina, criticou o comportamento de Valério, destacando que "a defesa do meio ambiente não pode ser tratada com insultos, mas com responsabilidade política".

Por outro lado, parlamentares ligados à bancada ruralista defenderam Plínio, elogiando sua atuação "firme" e "crítica" em relação ao que chamam de “indústria das ONGs” na região amazônica. O próprio senador, após a sessão, afirmou que Marina Silva "vitimiza-se" e que continuará atuando para "expor abusos cometidos por ONGs travestidas de ambientalismo".

Quem é Plínio Valério?

A tensão provocada pelo episódio também evidenciou uma contradição: enquanto se apresenta como defensor das comunidades tradicionais e crítico das ONGs, Plínio Valério mantém, uma casa de veraneio irregular dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé, em Manaus (AM), a cerca de 50 quilômetros da capital.

A propriedade está localizada às margens do Rio Negro, na entrada da comunidade São João do Tupé, onde vivem aproximadamente 80 famílias ribeirinhas que dependem de atividades autônomas e de programas sociais para sobreviver.

O imóvel consta nas declarações de bens de Plínio ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde 2006, quando ele disputou o Senado pelo PV. Em 2010, na campanha para deputado federal pelo DEM, declarou o terreno com uma casa, avaliado em R$ 30 mil — valor que se manteve na última declaração, em 2018, embora sem detalhamento sobre a localização.

Contudo, conforme o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), não existem lotes à venda na RDS do Tupé, uma área de 11.973 hectares inserida na Gleba Federal Cuieiras-Tarumã. A administração da reserva cabe à Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus (Semmas), que reforça a ilegalidade da construção: “É ilegal a aquisição de terras no interior da reserva por terceiros, pessoas que não são da comunidade”, informou a pasta em nota.

Apesar da irregularidade, o senador explora comercialmente o imóvel. A residência, batizada de “Chalé de Pedra”, é anunciada na plataforma Airbnb por R$ 1.446,00 a diária. O anúncio ressalta a sofisticação do espaço, com capacidade para até dez pessoas, suíte com cama queen size, ar-condicionado, wi-fi, espaço de trabalho e vista privilegiada para o Rio Negro. Também são oferecidos serviços personalizados de transporte e organização de eventos como casamentos e aniversários.

A responsável pela administração do chalé é Luciana Alencar da Silva, enteada de Plínio Valério e assistente parlamentar do senador Omar Aziz (PSD-AM), com salário de R$ 15.200,24. Curiosamente, Aziz foi o maior doador da campanha de Plínio em 2018, com cinco fretamentos aéreos que somaram R$ 17.750,00. Procurada pela reportagem por meio do número divulgado no Airbnb, Luciana não respondeu após ser informada sobre o caráter jornalístico do contato.

Luciana também é presidente da Federação de Wakeboard do Amazonas, esporte que pratica e promove por meio de encontros e competições em diferentes pontos do estado. Outras duas filhas de Plínio Valério também ocupam cargos públicos. Alana Barbosa Valério Tomaz é assessora na Secretaria da Fazenda do governo do Amazonas, aliado de Plínio, com salário de cerca de R$ 16 mil. Já Camila Valério Tomaz Soares é assessora do deputado federal Capitão Alberto Neto (PL-AM), com remuneração de R$ 9 mil.

A situação de Plínio Valério é emblemática das dificuldades de fiscalização na RDS do Tupé. De acordo com o gestor da unidade, Marco Antonio Vaz de Lima, a proximidade com a área urbana de Manaus facilita a presença de invasores. “A Prefeitura de Manaus deu entrada em uma solicitação no Incra desde 2008 requerendo a doação das terras, para que possa proceder à regularização fundiária”, explica Lima. Contudo, até hoje não houve desfecho para essa solicitação, mantendo a situação fundiária indefinida.

Criada por decreto municipal em 2005, a RDS do Tupé foi concebida para preservar o meio ambiente e garantir os modos de vida das populações tradicionais que já habitavam a área. A legislação é clara: é proibida a aquisição ou construção de imóveis na reserva por pessoas de fora da comunidade.

Mesmo assim, além do chalé do senador, outras construções de veraneio surgiram ao longo dos anos, impulsionadas pela ausência de fiscalização e pela indefinição sobre a titularidade das terras.

Quem é Marcos Rogério?

Marcos Rogério da Silva Brito nasceu em Ji-Paraná, Rondônia, em 1978. Jornalista e advogado, iniciou sua trajetória política ainda jovem, sendo eleito vereador de Ji-Paraná em 2004, pelo PDT. Posteriormente, filiou-se ao DEM, legenda pela qual conquistou seu primeiro mandato como deputado federal, em 2010.

Durante sua atuação na Câmara dos Deputados, ganhou notoriedade por sua defesa enfática do agronegócio, do armamento da população e de pautas conservadoras.

Em 2018, Marcos Rogério foi eleito senador por Rondônia, já pelo DEM, mas migrou posteriormente para o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem se tornou um dos principais aliados no Senado.

No Congresso, consolidou-se como uma das vozes mais influentes da direita bolsonarista, destacando-se na CPI da Covid, onde defendeu o governo federal e enfrentou opositores com discursos contundentes.

Além disso, tem sido um dos principais críticos das políticas ambientais do governo Lula, especialmente em temas relacionados à Amazônia Legal, região que representa. Para ele, a defesa ambiental feita pelo governo e por ONGs atrapalha o desenvolvimento econômico e prejudica produtores rurais.

Marcos Rogério também atua fortemente em defesa da revisão do marco temporal para a demarcação de terras indígenas, alinhando-se à bancada ruralista, e se opõe a políticas que considera prejudiciais ao agronegócio.

Sua trajetória política, marcada por fidelidade ao bolsonarismo e pelo combate a pautas ambientais, ajuda a explicar o tom adotado contra a ministra Marina Silva na sessão de ontem. O episódio reforça sua posição como um dos principais antagonistas do governo Lula no Senado.

Marcos Rogério é dono de 98,65 hectares de terras em uma área de conflitos de terras de Rondônia, o Vale do Jamari. O parlamentar, segundo sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral, é dono de dois imóveis rurais em Campo Novo (RO).

Na região onde estão as propriedades de Marcos Rogério fica a Terra Indígena dos Uru-Eu-Wau-Wau, que sofre com constantes ataques de invasores, principalmente para o roubo de madeira.

E a Marina

Marina Silva é uma das mais respeitadas líderes ambientais do mundo. Mulher negra, amazônida, seringueira, referência global na luta pela preservação da vida e da floresta.

Sua trajetória é símbolo de resistência, dignidade e compromisso inabalável com os povos originários e com o futuro do planeta. Ainda assim, em pleno 2025, ela segue sendo alvo de ataques brutais, misóginos e racistas por parte do escrutínio bolsonarista no Senado Federal.

Marina foi interrompida, silenciada, ironizada e desrespeitada por senadores que, mais uma vez, revelaram o ódio à autonomia de uma mulher negra em posição de poder. Após uma série de agressões verbais inaceitáveis, a ministra deixou a sessão com firmeza e dignidade, denunciando a violência política e de gênero que enfrentou diante de todo o país.

Mas Marina não começou ontem. Ao compartilhar uma foto de 1997, no Parque Chico Mendes, no Acre, ela escreveu: “Talvez lembrasse ali do assassinato do Chico, quase dez anos antes, ou de quando o encontrei pela primeira vez, vinte anos antes, e me senti convocada para o mesmo compromisso ao ouvi-lo falar em defesa da floresta... As datas são pontos de referência numa luta que é contínua e, para mim, já se estende por mais de quatro décadas.”

São mais de quarenta anos de caminhada, enfrentando o desmatamento, o autoritarismo, o preconceito e a destruição — sempre com a coragem de quem se comprometeu com a vida. E segue lutando.

O que está em jogo não é apenas sua honra, mas o direito das mulheres — especialmente as negras — de ocuparem espaços de poder, a integridade das instituições democráticas e a luta por um Brasil que respeite a floresta e quem a defende com coragem e verdade.

Marina Silva merece respeito!

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