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Lira deixa a presidência da Câmara, mas não deixa de ameaçar Lula

Apesar de não comandar mais a Casa, deputado vai usar projeto que seria vitrine do governo para promover chantagem


Reprodução Lira deixa a presidência da Câmara, mas não deixa de ameaçar Lula
Lira deixa a presidência da Câmara, mas não deixa de ameaçar Lula

Por Ivan Longo, jornalista, na Fórum

Mesmo fora da presidência da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) segue atuando como uma das principais pedras no sapato do governo Lula. Relator do projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil mensais, Lira agora ameaça travar a proposta – uma das principais vitrines do Planalto – caso não sejam incluídas compensações financeiras para estados e municípios.

A declaração veio após reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta quarta-feira (28).

“Não é justo que Estados e municípios arquem com essa despesa. Se houver a perspectiva de perda de receita, não terá apoio nem na Câmara, nem no Senado”, afirmou Lira, em tom de ultimato.

A fala soa como uma chantagem política, já que o projeto tem forte apelo popular. Levantamento do instituto Paraná Pesquisas, divulgado em janeiro, aponta que 67% dos brasileiros apoiam a isenção para quem ganha até R$ 5 mil. Outros dois estudos, da AtlasIntel e do Datafolha, confirmam essa tendência: 82% e 70% dos entrevistados, respectivamente, são favoráveis à medida. A proposta também é vista como um instrumento importante para aliviar a carga tributária da classe média e estimular a economia.

Relatoria virou instrumento de pressão

Apesar disso, Lira – que ocupa a relatoria por indicação do atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) – ameaça adiar ou desfigurar a proposta caso não obtenha contrapartidas. Em abril, a escolha de Lira como relator chegou a ser celebrada por interlocutores do governo, que viam na sua articulação uma possibilidade de aprovação mais célere do texto, ainda que com alterações.

Entretanto, desde o início de maio, Lira vem sinalizando que pode mexer também na parte que prevê aumento da taxação sobre os super-ricos – justamente a contrapartida fiscal pensada para viabilizar a isenção. Segundo o deputado, “medidas compensatórias alternativas” poderão ser incluídas no lugar da tributação de rendas acima de R$ 600 mil por ano, sob o argumento de que a população brasileira já sofre com a alta carga tributária sobre o consumo.

Centrão em ofensiva contra o Planalto

A ameaça de Lira se soma a uma série de movimentações do Centrão contra o Executivo. Em meio a projetos de interesse do governo e com as eleições de 2026 no horizonte, o ex-presidente da Câmara parece disposto a usar sua influência para pressionar o Planalto. A relatoria do IR, longe de ser apenas uma função técnica, se transformou num novo instrumento de barganha.

Com previsão de apresentação do relatório em 27 de junho, o governo agora corre contra o tempo para garantir que o texto não seja esvaziado.

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