O racismo religioso
Intolerância às religiões de matriz africana reflete o racismo estrutural no Brasil

No Brasil, entre 2020 e 2022 houve um aumento de 45% na quantidade de denúncias de agressões contra as religiões de matriz africana e os seus praticantes. Porém, há uma é subnotificado sobre esse tipo de violência, pois muitas pessoas desacreditam que as denúncias superem a impunidade vivida em outras situações.
O racismo religioso – ou a negação da história da religiosidade de matrizes africanas que é fruto da resistência dos escravos no Brasil –, é mais uma forma de violência contra a população negra. Pois, além de lutar pela sobrevivência, a superação do racismo, as barreiras social, econômico e político, a maioria do povo negro tem que enfrentar o desrespeito e a intolerância em relação as suas diversas formas de expressar e cultuar a fé.
Nesse sentido, o racismo religioso é uma expressão da intolerância impregnada no imaginário coletivo – conjunto de símbolos, mitos, crenças e representações socioculturais que são compartilhados e transmitidos por uma comunidade ou grupo de pessoas. Isto é, a forma como a sociedade interpreta e representa o mundo, influenciando as práticas, os valores e os comportamentos.
Assim, o racismo religioso é uma forma de racismo à brasileira, através de falas e ações individuais, institucionais e coletivas, para desqualificar ou demonizar as religiões de matriz africana e seus praticantes. O objetivo é estigmatizar negativamente as comunidades religiosas, precarizando sua existência, organização, reconhecimento e liberdade de culto.
Desse modo, o racismo religioso dissemina a discriminação e a violência direcionadas a religiões e seus praticantes, especialmente do Candomblé e da Umbanda, para negá-las e destruí-las.
Para tanto, se utilizam de discursos de ódio, ataques a terreiros, depredação e destruição de símbolos religiosos, para efetivar a negação do direito à liberdade de crença e de experienciar um modo de fé.
Ou seja, essa forma de racismo à brasileira, através da intolerância religiosa, objetiva discriminar, difamar, impedir e eliminar as práticas de determinadas religiões e a manifestação cultural dos seus adeptos, devido a uma profunda ignorância religiosa reproduzida por diversos meios comunicativos para manipular a percepção do senso comum, onde a sociedade perde.
Desse modo, a vil discriminação religiosa se funda em preconceitos e na ignorância sobre as religiões de matriz africana e os seus praticantes. Onde lugares, pessoas ou grupos são destratados, ridicularizados e violentados devido à religião específica com a qual se alinham, se identificam, na qual se iniciaram ou praticam – não somente os negros.
Logo, o racismo religioso intenta à negação de direitos garantidos – como a liberdade de expressão e a igualdade perante a lei –, além de consolidar ódios e estereótipos. Os ataques aos terreiros, a depredação e a destruição de símbolos religiosos, agressões verbais ou físicas são manifestações do ódio religioso à brasileira – que vai para além da noção de “intolerância religiosa”.
Portanto, o racismo religioso – uma faceta do racismo estrutural no país – se constitui em um conjunto de práticas violentas, que expressam a discriminação e o ódio pelos povos de terreiros, os objetos sagrados, as comunidades tradicionais de religiões de matriz africana e os seus adeptos. Os territórios sagrados, tradições e culturas afro-brasileiras são vítimas de uma ojerização de desinformados.
Por isso, é fundamental enfrentar as raízes do racismo religioso, com ações informativas, conhecimento e denunciando os casos de intolerância e violência, para promover o respeito às diferentes religiões e culturas. É reconhecer a contribuição sociocultural das comunidades de terreiros na formação do povo brasileiro. É jurar os direitos humanos e a igualdade racial, além de fortalecer a democracia no Brasil.
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