O Brasil não precisa ser uma reunião de tristeza
Não posso negar, que desde os meus tempos de juventude e de aprendizado acadêmico, sempre fui repartido pela arte literária e o institucionalismo presente na ciência econômica. A definição materialista da Economia, como bem posta por Lionel Robbins, em “Um ensaio sobre a natureza e a importância da Ciência Econômica” (1932) muito em mim pesou. Contudo, foi Amartya Sen, em “A ideia de Justiça” (2009) quem reforçou em mim outro legado que não somente a dos fisiocratas e velhos economistas ingleses, acrescentando Adam Smith.
Quando Amartya Sen, economista e filósofo indiano, fala de argumentação pública, democracia e justiça mundial, assim o faz ressaltando que “as instituições não podem deixar de desempenhar um papel instrumental significativo na busca da justiça”.
Entendo que a busca da justiça é a motivação primeira para a elevação e aprimoramento civilizacional. Neste entendimento, muito me entristece viver no Brasil de agora. Parece mais que voltamos ao estado de natureza, de Thomas Hobbes. A argumentação pública perdeu espaço para discursos odientos. As proposições dialógicas se foram para as calendas em completo desvirtuamento da democracia e da paz social.
Mesmo com a demora de se livrarem de uma vez por toda da pandemia do covid-19 e das guerras insanas ou das caveiras da guerra fria, sobretudo de passados tratados geopolíticos equivocados, as sociedades contemporâneas ainda procuram assegurar bens públicos a suas coletividades, pautadas na economia do conhecimento, respeito às liberdades da cidadania e nas políticas ambientais para a preservação da natureza.
No Brasil, as instituições estão ameaçadas a serem capturadas de vez por grupos de interesses. Não há em nosso parlamento a defesa das escolhas coletivas, do bom direcionamento das políticas públicas. Aliás, nosso parlamento é uma enorme reunião de tristeza (em alusão a música de Sivuca). Não temos representações do povo e do Estado, temos bancada: da bala, da bíblia, do boi. Lamentavelmente, a cada dia surge uma desenganosa e fatídica notícia de mais desmatamento de terras virgens, genocídio dos povos originários e outras atrocidades para a degradação de nosso meio ambiente.
A selvageria voltou com toda a força em terras tupiniquins. A majoritária população negra e mestiça do país vive sob a ameaça protocolar das policias e milicias nacionais. As manifestações de racismos são estruturais e institucionais: pretos e pretas jovens são mortos e nem chegam a participar da população economicamente ativa do país, nossas cunhãs são estupradas por garimpeiros selvagens, no mais das vezes acobertados pela inércia do poder público.
É muito difícil geometrizar tamanhas insanidades. Um país já marcado pelo escravagismo, pela desumanidade do latifúndio e pela captura do Estado pelas elites políticas e econômicas hoje está assolado pelo pesadelo do retrocesso e da desesperança. As teorias e os processos educativos para a libertação do pensamento são alvo de ataques ferozes dos neoconservadores que tratoram nossas ancestralidades, nossas heranças indígenas, nossos cultos aos orixás.
Vivemos no Brasil, um remaker de um filme macabro. Um país onde fake é fato. O apagamento de nossa história de construção da cidadania não contribui para a justiça mundial de que fala Amartya Sen. Nem tão pouco o conceito de Economia ligado ao bem-estar material lembrado por Lionel Robbins tem validade quando o que interessa é o curtíssimo prazo das intenções de quem interessa pilhar as nossas riquezas naturais.
No Brasil de agora, a formalidade (leis) é desrespeitada sem nenhuma parcimônia por autoridades executivas e legislativas. A informalidade nas regras deve corresponder ao aprimoramento de estagio civilizacional e não uma ameaça para os desnudos de caráter e de boas intenções.
Chega, precisamos mudar o rumo em boas alvíssaras ao nosso destino de nação.
Deixe sua opinião: