Míriam Leitão reconhece: dólar não subiu por conta de crise fiscal
Para a jornalista, a queda da moeda americana desmente a tese de que a preocupação com as contas públicas foi o principal fator de desvalorização do real

A jornalista Míriam Leitão, em sua coluna publicada no jornal O Globo nesta quarta-feira (5), revisitou o movimento de alta do dólar no final de 2024 e concluiu que ele não estava diretamente relacionado a uma suposta crise fiscal no Brasil, como foi amplamente discutido no mercado financeiro. Ela aponta que a recente queda da moeda americana refuta a ideia de que as preocupações fiscais seriam o principal fator para a desvalorização do real.
Leitão ressalta que o câmbio é um mercado complexo, influenciado por uma série de fatores locais e globais. A moeda americana teve 12 sessões seguidas de queda, o que resultou numa valorização de 6,6% do real, com o dólar operando em alta na quarta-feira. Embora a volatilidade ainda seja significativa, o valor de R$ 5,80 registrado no início de 2025 está distante dos R$ 6,28 alcançados em dezembro de 2024.
Ela argumenta que a valorização do dólar no final de 2024 esteve mais relacionada a um movimento global de fortalecimento da moeda americana, motivado pela expectativa de juros mais altos nos Estados Unidos. A perspectiva de uma política econômica mais protecionista sob a liderança de Donald Trump também influenciou essa dinâmica. Além disso, houve uma retirada considerável de dólares do Brasil, embora esse fenômeno não fosse exclusivo do país.
A jornalista observa que, embora a questão fiscal brasileira seja importante, ela foi exagerada no debate econômico. A dívida do país corresponde a 80,1% do PIB, e os desafios fiscais são reais, mas as previsões alarmistas feitas no final de 2024 não se concretizaram. O governo cumpriu a meta de déficit.
A mudança na tendência do dólar também tem implicações para a inflação, aliviando as pressões sobre os preços, especialmente dos alimentos. Embora a desaceleração dos preços não seja tão pronunciada quanto em 2023, a previsão de uma boa safra deve ajudar nesse contexto. Em contrapartida, a política monetária do Banco Central ainda influencia o ritmo de crescimento da economia. Dados recentes do IBGE indicam uma queda de 0,3% na produção industrial em dezembro, após uma retração de 0,7% no mês anterior, sugerindo uma expansão econômica mais lenta.
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