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Manipulação de apostas: saiba tudo sobre o caso Bruno Henrique

Jogador é indiciado por fraude esportiva


Reprodução Manipulação de apostas: saiba tudo sobre o caso Bruno Henrique
Bruno Henrique e irmão envolvidos em esquema de apostas

A Polícia Federal indiciou o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, por fraude em competição esportiva, no que representa mais um capítulo da crescente crise relacionada à manipulação de resultados no futebol brasileiro. A decisão foi tomada na segunda-feira, 14 de abril de 2025, como resultado de uma investigação que apura o envolvimento de jogadores e apostadores em esquemas de manipulação para favorecer resultados específicos em sites de apostas esportivas.

O cartão amarelo suspeito

O episódio central da investigação ocorreu em 1º de novembro de 2023, durante a 31ª rodada do Campeonato Brasileiro. Na ocasião, o Flamengo enfrentou o Santos no estádio Mané Garrincha, em Brasília, e foi derrotado por 2 a 1. Bruno Henrique recebeu um cartão amarelo que o deixou suspenso para a rodada seguinte — o que, a princípio, parecia uma ocorrência comum. No entanto, casas de apostas detectaram uma movimentação atípica: um número elevado e concentrado de apostas prevendo exatamente essa punição.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) comunicou o caso às autoridades, dando início à apuração.

A Operação Spot-Fixing

Quase um ano depois do jogo, em 5 de novembro de 2024, a Polícia Federal e o Ministério Público do Distrito Federal deflagraram a Operação "Spot-fixing". Foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e em quatro cidades mineiras, incluindo Belo Horizonte, cidade natal do jogador.

Entre os alvos das buscas estavam Bruno Henrique, seu irmão Wander Nunes Pinto Júnior — conhecido como "Juninho Neymar" nos campos da várzea mineira — e outros dez investigados. As autoridades apreenderam celulares, computadores e documentos que comprovariam o planejamento da fraude.

Posteriormente, a PF revelou a existência de trocas de mensagens entre Bruno Henrique e o irmão, discutindo o recebimento do cartão e o benefício financeiro que poderia ser gerado por apostas feitas por familiares.

A defesa do jogador

Poucos dias após a operação, Bruno Henrique se pronunciou publicamente, negando qualquer irregularidade. “Recebi (a operação) de uma forma agressiva. Não esperava da forma que foi, mas acredito na justiça lá de cima. Deus sempre esteve comigo. Estou tranquilo em relação a isso e só peço que a justiça seja feita”, disse o camisa 27 do Flamengo.

Indiciamento e próximos passos

Com o avanço das investigações, o Ministério Público manifestou, em março de 2025, o interesse em ouvir o jogador. Já no dia 14 de abril, a PF concluiu o inquérito e indiciou Bruno Henrique por fraude em competição esportiva. O relatório foi enviado ao MP, que agora decidirá se apresentará denúncia formal à Justiça.

Se denunciado, o atleta poderá responder com base na Lei nº 14.790/2023 (Lei das Bets), que regula o mercado de apostas no Brasil, e na Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597/2023). Ele pode ser enquadrado no artigo 200, que trata de condutas fraudulentas em competições esportivas — crime que prevê pena de dois a seis anos de prisão, além de multa.

Possíveis punições na esfera esportiva

No âmbito da Justiça Desportiva, o atacante também poderá ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Especialistas apontam que ele pode ser enquadrado no artigo 258 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que trata de conduta contrária à ética desportiva. A pena, nesse caso, pode variar entre advertência, suspensão por até seis partidas ou, em casos mais graves, até suspensão preventiva de 30 dias prorrogáveis.

Casos semelhantes já renderam punições severas no futebol brasileiro. Em 2023, cinco atletas foram banidos do esporte por envolvimento com apostas e outros cinco foram suspensos por dois anos. Já Eduardo Bauermann e Alef Manga receberam suspensões de um ano.

O papel do Flamengo

Em nota oficial, o Flamengo declarou que não foi formalmente comunicado pelas autoridades sobre o indiciamento de seu jogador e reiterou o compromisso com o fair play esportivo. No entanto, o clube destacou que respeita o princípio da presunção de inocência:

“O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito.”

O “Neymar da várzea”

Personagem central na investigação, Wander Nunes Pinto Júnior, irmão de Bruno Henrique, é figura conhecida no futebol amador de Minas Gerais. Com 35 anos, ganhou notoriedade como “Juninho Neymar”, sendo um dos atletas mais requisitados e bem pagos da várzea mineira — recebendo até R$ 1.200 por jogo, segundo dirigentes locais.

Com estilo de jogo semelhante ao do irmão, é conhecido por sua velocidade, presença de área e capacidade de decisão, especialmente em cobranças de pênalti. Sua relação próxima com Bruno Henrique e a suspeita de que teria recebido informações privilegiadas sobre a punição ao jogador do Flamengo o colocam como um dos principais investigados do caso.

Mais um nome em uma lista crescente

O indiciamento de Bruno Henrique amplia a lista de jogadores brasileiros envolvidos em investigações por manipulação de resultados. Casos como os de Luiz Henrique, ex-Botafogo, e Lucas Paquetá, do West Ham, também seguem em apuração por parte das federações da Inglaterra e da Espanha.

O caso Bruno Henrique escancara os desafios que o futebol brasileiro enfrenta no combate à corrupção e à manipulação de resultados. 

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