Quem é Hércules, do Fluminense? O piauiense que virou herói no Mundial de Clubes
Ele disse: "No Nordeste as coisas são mais difíceis. Mas nunca desisti."

De Jaicós, no interior do Piauí, para o mundo. Hércules Pereira do Nascimento, ou simplesmente Hércules, tem 24 anos, atua como volante e vem sendo o nome mais falado do Fluminense na reta final da Copa do Mundo de Clubes da FIFA 2025. Com gols decisivos contra a Inter de Milão e o Al-Hilal, ele não apenas garantiu a classificação tricolor para as semifinais como também conquistou a torcida — e o posto de "Craque do Jogo" nas duas partidas.
Mas o caminho até esse momento épico não foi fácil.
Da moto parcelada ao gol histórico
Hércules começou a carreira no modesto São Bernardo, em São Paulo, em 2016, mas deixou o clube após apenas oito meses: a saudade do Piauí falou mais alto. De volta ao Nordeste, rodou por Tiradentes-CE e Atlético Cearense, onde atuou tanto na base quanto no profissional, ganhando apenas R$ 2 mil mensais. Mesmo com esse salário apertado, decidiu comprar uma moto para o pai com parcelas de R$ 1.800. A ex-presidente do Atlético-CE, Maria Vieira, lembra: "Ele sempre sonhou em dar uma vida melhor à família. Era um menino sem salário que virou símbolo de superação."
Depois de boas atuações na Copinha e na segunda divisão cearense pelo Crato, chamou atenção do Fortaleza, que o contratou por empréstimo para o sub-23 em 2021. Ao fim do ano, o Leão do Pici desembolsou R$ 200 mil por 50% de seus direitos. Foi ali que o técnico Vojvoda percebeu seu potencial e o promoveu aos profissionais.
No Fortaleza, Hércules se firmou: foram 48 jogos em 2022, com direito a gol no Maracanã contra o Flamengo e aposta vencida com o atacante Moisés. Renovou contrato até 2026 e seguiu como peça importante até o início de 2025, quando o Fluminense pagou R$ 29 milhões por 70% dos seus direitos — a maior contratação da história do clube até então.
Começo turbulento nas Laranjeiras
Mesmo cercado de expectativa, o início no Fluminense não foi fácil. Hércules demorou a engrenar, virou alvo de fake news que o associavam à vida noturna e chegou a desativar suas redes sociais após ataques. Discreto, caseiro e tímido, ele enfrentou o baque em silêncio. "Cheguei ao Fluminense e passei por uma situação complicada. Mas minha família e meus companheiros me deram força. Nunca pensei em desistir", revelou após um dos jogos do Mundial.
O técnico Renato Gaúcho insistiu em sua recuperação. A confiança aumentou em maio, e o volante passou a ganhar mais minutos. Foi titular contra o Borussia Dortmund e brilhou nas fases seguintes: marcou o gol da vitória por 2 a 0 sobre a Inter de Milão nos acréscimos, impedindo a prorrogação, e balançou as redes novamente contra o Al-Hilal, decretando o 2 a 1 que levou o Flu às semifinais.
O Hércules do Fluminense também tem seus 12 trabalhos
Na mitologia grega, Hércules venceu 12 desafios até alcançar a glória eterna. No futebol, o piauiense encara os seus próprios — pobreza, rejeição, saudade, salário baixo, fake news, desconfiança. E vai superando um por um. No gramado, já são três gols com a camisa tricolor, dois deles em momentos cruciais no Mundial. Fora dele, uma história de resiliência que emociona até os dirigentes que o viram começar.
"Infelizmente muitos meninos se perdem ao longo do caminho, mas com ele tem dado tudo certo", disse Maria Vieira.
O Fluminense segue vivo na busca pelo inédito título mundial, e Hércules, de Jaicós para Orlando, é hoje o nome que carrega não apenas a esperança da torcida, mas o símbolo de um futebol que ainda acredita no improvável.
Como ele mesmo disse:
"No Nordeste as coisas são mais difíceis. Mas nunca desisti."
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