"Lula vai se arrepender de ter nascido. Vou livrar o Brasil desse cara", disse paraense
Quem é o homem que ameaçou Lula no Pará

A Polícia Federal (PF) investiga Manoel dos Santos Ferreira Junior, de 31 anos, motorista de aplicativo, por ameaçar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante sua visita a Belém, no Pará. Além de mensagens postadas nas redes sociais, a Revista Cenarium apurou que Manoel exibe adesivos com símbolos associados ao nazismo em sua motocicleta, incluindo a inscrição “Luftwaffe” e a Cruz de Ferro, ambos ligados à Alemanha nazista.
No dia 12 de fevereiro, a PF cumpriu um mandado de busca e apreensão em sua residência, autorizado pela Justiça Federal. Além disso, medidas cautelares foram impostas, como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de se aproximar de locais onde o presidente esteja presente. A investigação teve início após Manoel, sob o nome “Júnior Sanches”, publicar ameaças diretas a Lula, como “Dessa vez vou conseguir chegar perto. Lula vai se arrepender de ter nascido. Eu vou livrar o Brasil desse cara, vou preso mas vou feliz”.
A reportagem da Cenarium encontrou a motocicleta do suspeito em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém. Os adesivos com referências ao nazismo estavam visíveis, e havia marcas na lataria indicando que outros adesivos foram removidos recentemente. Além disso, Manoel segue perfis que comercializam produtos nazistas nas redes sociais. Especialistas alertam que esse tipo de comércio, disfarçado de interesse histórico, muitas vezes serve para disseminar ideologias extremistas.
O historiador Tunai Rehm, da Universidade Federal do Pará (UFPA), destacou que o uso desses símbolos é preocupante, pois a apologia ao nazismo tem crescido no Brasil. Ele aponta que a internet facilita a disseminação de ideologias extremistas e que a Polícia Federal vem investigando esse aumento. Rehm também ressalta que o nazismo era um movimento contrário ao socialismo e ao comunismo, o que poderia explicar a hostilidade do suspeito contra Lula.
A família de Manoel Júnior foi surpreendida pela operação da PF. Sua mãe, que tem deficiência auditiva e identidade preservada, disse que não sabia das publicações do filho e que ficou abalada com a situação. Ela negou que Manoel seja violento e acredita que ele está envergonhado. A mãe afirmou que seu filho nunca teve problemas com a lei e que pode ter sido influenciado por fatores emocionais, como a morte do pai.
Além do impacto emocional, a família enfrenta dificuldades financeiras para custear um advogado. A mãe teme que Manoel tenha dificuldades para retomar a vida profissional, já que ele ainda paga as parcelas da motocicleta e trabalha como motorista de aplicativo.
Do ponto de vista jurídico, a advogada criminalista Ennya Barbosa explicou que a legislação brasileira criminaliza tanto a incitação ao preconceito quanto o uso de símbolos nazistas. Segundo ela, a lei 7.716/89 prevê penas de reclusão de até cinco anos para quem divulgar ideologias nazistas. Barbosa alerta que grupos neonazistas no Brasil têm adotado símbolos alternativos para driblar a lei, como a Cruz de Ferro e referências à Luftwaffe.
O pesquisador Tunai Rehm também relembrou que o nazismo teve presença no Brasil, inclusive no Pará. No período da Segunda Guerra Mundial, havia células nazistas no estado, e documentos históricos apontam que suspeitos de ligação com o regime foram enviados a campos de trabalho forçado. Com o rompimento do Brasil com as potências do Eixo, muitos simpatizantes do nazismo tentaram esconder suas conexões.
Com a internet, o movimento neonazista tem ganhado novas formas de disseminação, e especialistas alertam para a necessidade de combate rigoroso a esse tipo de ideologia. O caso de Manoel Júnior evidencia como a radicalização política, aliada a discursos de ódio, pode se tornar uma ameaça à democracia e à segurança pública.
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