Lira (Progressistas) manobra reforma do IR e sinaliza proteção aos super-ricos
Lira sinaliza rever taxação sobre grandes fortunas, favorecendo elites e enfraquecendo proposta do governo

Na instalação da comissão especial que analisará a reforma do Imposto de Renda (PL 1087/25), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), relator da proposta, demonstrou mais uma vez disposição em atender aos interesses do topo da pirâmide econômica. Ao apresentar uma análise preliminar do projeto, Lira admitiu que pode rever a alíquota de 10% para quem ganha mais de R$ 1,2 milhão por ano — justamente o grupo que seria mais afetado pelas mudanças sugeridas pelo Executivo para tornar o sistema tributário mais progressivo.
A sinalização de Lira soa como uma tentativa de esvaziar a principal proposta do governo Lula para corrigir distorções históricas do sistema tributário brasileiro, que pesa sobre os mais pobres e alivia os mais ricos. O projeto enviado ao Congresso em março prevê isenção para quem ganha até R$ 5 mil mensais e uma alíquota reduzida para quem recebe até R$ 7 mil. Para compensar a perda de arrecadação estimada em R$ 20,5 bilhões em 2026, o governo propôs aumentar a taxação de quem ganha mais de R$ 50 mil por mês.
A alíquota progressiva de até 10% sobre grandes rendas anuais — ainda modesta diante da média dos países da OCDE — tornou-se alvo do Centrão. Lira, num discurso pretensamente técnico, sugeriu “medidas compensatórias alternativas” que podem, na prática, blindar grandes fortunas e manter intocados privilégios fiscais históricos. Argumentou que a alta carga tributária sobre o consumo justificaria uma reavaliação da cobrança sobre a renda — um raciocínio que, na prática, perpetua a desigualdade tributária.
A reunião também confirmou o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) na presidência da comissão, que deve apresentar o relatório no fim de junho e votar o texto em meados de julho. Nos bastidores, no entanto, a comissão é apenas um dos fronts da ofensiva legislativa promovida por Lira e pelo Centrão para pressionar o Planalto em um momento de enfraquecimento político do governo federal.
A movimentação de Lira ocorre em sintonia com outras iniciativas que compõem um verdadeiro pacote de chantagens políticas em ano pré-eleitoral. Na quarta-feira (7), a Câmara aprovou às pressas um projeto de forte teor controverso, que suspende a ação penal no STF contra o deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. O texto, segundo juristas e parlamentares da oposição, é abertamente inconstitucional, mas foi levado adiante como mais um gesto de força do bloco centrado no comando de Lira.
A proposta sequer especifica que a suspensão da ação se refere apenas ao parlamentar, abrindo brecha para blindar outros investigados na mesma petição — inclusive o próprio Bolsonaro.
No pano de fundo, o recado de Lira é claro: quem comanda a pauta da Câmara é o Centrão, e qualquer avanço social promovido pelo Executivo passará primeiro pelo filtro dos interesses do alto empresariado e das elites políticas que se articulam em torno da reeleição de seus próprios projetos.
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