Hospital público de SP tem surto de “superfungo”
Segundo Anvisa, superfungo Candida auris é ameaça à saúde pública. Hospital público em SP têm 15 casos entre colonizações e infecção

O Candida auris, conhecido como “superfungo”, tem gerado grande preocupação mundial devido à sua capacidade de propagação, resistência aos antifúngicos e elevada taxa de mortalidade. Em São Paulo, o Hospital do Servidor Público Estadual, localizado na zona sul da capital, enfrenta um surto do fungo, com 14 casos de colonização — quando o paciente hospeda o fungo sem estar infectado — e um caso de infecção, desde janeiro deste ano.
O primeiro caso de Candida auris no Brasil foi registrado em 2020, durante a pandemia de Covid-19. O paciente inicial estava internado em uma UTI de um hospital em Salvador (BA). A superlotação das unidades de saúde nesse período, somada à redução da capacidade de controle de infecções, favoreceu o surgimento do fungo. Desde então, surtos hospitalares, especialmente em UTIs, têm sido relatados.
O infectologista Diego Rodrigues Falci, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explicou que as candidíases invasivas são frequentes em pacientes hospitalizados, com transmissão pelo contato direto com o fungo, que pode sobreviver em superfícies inanimadas, como roupas de cama, corrimãos, móveis e equipamentos médicos.
“Pacientes que fazem uso de antibióticos, passaram por quimioterapia, transplante ou que estão gravemente doentes em unidades de terapia intensiva são mais suscetíveis a infecções, pois esses fatores enfraquecem o sistema imunológico”, afirmou Falci.
Ameaça à saúde pública
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classifica o Candida auris como uma grave ameaça à saúde pública devido às seguintes características:
Produz biofilmes que são tolerantes a antifúngicos.
Apresenta resistência aos medicamentos antifúngicos mais comuns, como fluconazol, anfotericina B e equinocandinas. Estudos indicam que até 90% dos isolados de Candida auris são resistentes a esses tratamentos.
Pode causar infecções graves, como candidemia (infecção na corrente sanguínea), que pode ser fatal, especialmente em pacientes imunodeprimidos ou com comorbidades.
Sobrevive por longos períodos no ambiente, incluindo semanas ou meses, e é resistente a diversos desinfetantes, incluindo os à base de quaternário de amônio.
Dificulta sua identificação precoce pelos métodos laboratoriais rotineiros e sua eliminação no ambiente contaminado, o que favorece surtos.
Falci destacou que o Candida auris é particularmente grave, pois pode levar à candidemia, uma infecção sanguínea fatal. Os sintomas incluem febre, mal-estar e alterações nos exames laboratoriais. O tratamento é realizado com antifúngicos, mas devido à resistência do fungo, tratamentos alternativos podem ser necessários.
Surto no hospital
Um paciente de 73 anos, internado no Hospital do Servidor Público Estadual, morreu após ser infectado pelo Candida auris. Contudo, o hospital informou que o óbito foi causado por complicações cirúrgicas, e não pela infecção fúngica.
O Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (Iamspe) comunicou que o hospital notificou a Anvisa e implementou medidas de segurança e controle, incluindo isolamento de pacientes em quartos individuais, aumento da higienização e treinamentos para as equipes. Além disso, a unidade realiza coletas mensais para monitoramento do surto.
Durante as coletas, foi detectada a presença do Candida auris em 14 outros pacientes, mas nenhum deles desenvolveu infecção durante o tratamento. O hospital continua em contato semanal com a Anvisa para atualizar sobre as ações e os resultados das coletas, reforçando os protocolos de controle de infecção em toda a unidade.
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