Política

É GUERRA: Lula decide arriscar pra não perder sem lutar

A decisão que Lula tomou foi, certamente, fruto de muita reflexão. O presidente sabe que o que está em jogo é, de alguma forma, como vai encerrar a vida pública


ChatGPT Oficial da OpenAI É GUERRA: Lula decide arriscar pra não perder sem lutar
Lula em guerra

Por Renato Rovai, colunista, na Fórum

O destino deste terço final do terceiro mandato de Lula está amarrado ao resultado da batalha que se inicia hoje. O presidente deu sinal verde na tarde de ontem para que a AGU judicialize a decisão da Câmara impedindo o aumento do IOF, o imposto dos ricos. Se o STF fizer o seu trabalho, a votação que derrubou o decreto presidencial vai ser considerada ilegal e o imposto continuará valendo. Dez entre dez juristas sérios dizem que a Constituição é clara neste aspecto e que o STF não terá como interpretá-la de outra forma.

A vitória no Supremo, porém, não significará uma vitória imediata do governo Lula. Pode ser também o início de uma guerra de fim de mandato que exigirá do presidente espírito de luta e capacidade de articulação dos seus melhores momentos na política para não se transformar naquilo que os americanos chamam de pato manco, um político em fim de mandato sem força alguma e predestinado a um fim melancólico.

Contra quem é a guerra?

Hugo Motta não age por si. Ele representa o establishment brasileiro que não quer mais Lula e o PT no comando do governo federal. E que já escolheu Tarcísio para presidente a partir de 2026.

Caberia a Lula, na visão deste setor, agradecer por ter tido a oportunidade de encerrar sua carreira política com dignidade em 2026 e lançar um candidato para ser derrotado pelo governador de São Paulo.

Mas Lula olhou no espelho e parece não ter reconhecido na sua imagem alguém que aceitaria isso passivamente. Sua história não combina com o que as elites decidiram para ele desde que subiu com dona Lindu num pau de arara e foi parar no Guarujá, litoral paulista, à procura do pai que abandonara a família no sertão. 

Este Lula não morreu e tampouco se aposentou. Este é o recado que está sendo dado com a decisão de ir à guerra contra o centrão para não ser refém dele neste terço final deste mandato.

Vai dar certo a estratégia? Esta é uma questão que não está pacificada. Dentro do próprio PT há quem ache que o presidente deveria tentar negociar mais antes desta cartada pela judicialização. Mas Lula avalia que Hugo Motta passou de todos os limites e que se mostrar fraqueza será engolido pelo processo. Decidiu que se tiver que ser derrotado, será lutando.

A decisão de Lula implica de alguma forma numa disputa que o PT tem tradição. A de opor os interesses dos mais pobres com a ganância dos mais ricos, que não aceitam pagar nenhum centavo a mais para garantir projetos que melhorem a vida do povo.

Mas será que o PT ainda sabe conversar com o novo povão brasileiro formado em tempos de redes digitais e com forte influência da teoria da prosperidade do pentecostalismo e do discurso neoliberal do empreendedorismo como salvação?

Há muita gente no próprio PT que avalia que não. Que o tempo passou na janela e que o próprio Lula não viu, como na Carolina de Chico Buarque.

Há um outro setor que avalia exatamente o contrário. Que a partir do governo ainda é possível o PT tentar se reencontrar com as velhas bases e garantir um novo mandato para Lula, quando haveria tempo para reconstruir um projeto popular de nação mais à esquerda.

Sem arriscar agora, o campo progressista estaria entregando tudo de bandeja para os setores mais fisiológicos e conservadores. E isso seria também o fim do lulismo e do próprio petismo como alternativa de poder.

A decisão que Lula tomou ontem foi, certamente, fruto de muita reflexão. O presidente sabe que o que está em jogo é, de alguma forma, como vai encerrar a vida pública. 

E optou por ir à luta.

Ele sabe que isso pode lhe custar muito caro, mas não viu alternativa melhor. As cartas estão lançadas. E Lula, cá entre nós, não é um jogador qualquer. O outro lado também terá que calcular seus riscos. Hugo Motta também pode ter o destino de um Severino Cavalcanti ou de um Eduardo Cunha. Alguém precisa avisá-lo disso.

Siga nas redes sociais

Deixe sua opinião: