Coronelismo atual: sem jagunços, mas com banqueiros. Sem espingarda, mas com caneta. E sempre contra o povo!
Hugo Motta e Ciro Nogueira desempenham papel semelhante aos dos coronéis nordestinos do século XX

Durante boa parte do século XX, o Nordeste brasileiro foi mantido sob o domínio de oligarquias rurais que concentravam poder, terra e influência política. Eram os chamados coronéis, figuras autoritárias que controlavam votos, distribuíam favores e garantiam que a pobreza extrema continuasse sendo o preço da lealdade política. O controle social era mantido pelo medo e pela dependência, enquanto a miséria era cultivada como estratégia de poder. Em Brasília, os políticos do Sul e Sudeste conheciam bem esse arranjo — e o aceitavam sem constrangimento, pois garantiam o apoio dos votos nordestinos em troca de políticas que favoreciam suas próprias elites econômicas.
Esse ciclo perverso de poder regional a serviço do domínio nacional parecia ter se enfraquecido com a redemocratização e os avanços sociais do início do século XXI. No entanto, figuras como o deputado paraibano Hugo Motta mostram que os velhos mecanismos apenas se reinventaram. Filho de uma família com longo histórico na política local e com sucessivas denúncias de envolvimento em esquemas de corrupção, Motta não só sobreviveu ao tempo — ele prosperou. Agora, exerce o auge de sua influência, na presidência da Câmara dos Deputados, um dos cargos mais estratégicos da República.
Enquanto o governo Lula busca implementar uma política de justiça fiscal que tem por objetivo tirar milhões de brasileiros da pobreza — exigindo que os mais ricos contribuam proporcionalmente mais com os cofres públicos —, Hugo Motta atua na direção oposta. Trabalha nos bastidores para manter privilégios da elite financeira do país, concentrada principalmente nos estados do Sudeste. No episódio recente da derrubada do aumento do IOF para os super-ricos, Motta agiu não como representante de um povo historicamente marginalizado, mas como defensor de um sistema que perpetua desigualdades.
Mas Hugo não está sozinho. Seu avanço político tem o apoio silencioso — e calculado — de outro herdeiro do velho coronelismo nordestino: Ciro Nogueira, senador pelo Piauí e presidente do Partido Progressista. Ciro também é filho de oligarquia tradicional, dono de vastas extensões de terra em Teresina e em diversas cidades piauienses. Com forte influência nos bastidores da política brasileira, Ciro atua hoje como operador de uma agenda nacional que visa não apenas desestabilizar o governo Lula, mas recolocar a extrema-direita no centro do poder. Ao dar sustentação política a Hugo Motta, Ciro busca reviver o papel histórico de articulador dos interesses das elites disfarçado de representante do povo.
O Nordeste que por décadas foi usado como trampolim eleitoral, continua servindo de base de manobra para projetos políticos que negam a própria região. Motta e Nogueira, embora carreguem o sotaque nordestino e ostentem raízes sertanejas, falam hoje a língua do mercado, da especulação, da velha elite econômica que nunca aceitou a ascensão dos pobres.
É o coronelismo do século XXI: sem jagunços, mas com banqueiros. Sem espingarda, mas com caneta. E sempre contra o povo.
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