Política

Devemos à geração de Mujica muito do que somos e temos hoje

Sua geração moldou valores democráticos na América Latina. Viva Mujica


Reprodução Devemos à geração de Mujica muito do que somos e temos hoje
Devemos à geração de Mujica muito do que somos e temos hoje

Por Moisés Mendes, jornalista em seu blog 

A imprensa brasileira teve o primeiro contato com Pepe Mujica como presidente do Uruguai em agosto de 2010, em Livramento. Ele havia tomado posse em março e Lula tinha apenas mais quatro meses de governo.

Os dois se encontraram no meio da Praça Internacional, na divisa Livramento-Rivera, e depois assinaram acordos de cooperação sem grande relevância. Foi uma festa com muito povo.

Mas o povo e os repórteres se perguntavam: o que Lula veio fazer aqui? E a notícia daquele encontro foi então o gesto político de Lula. Mujica e o Uruguai poderiam continuar contando com o Brasil. Pouco depois, Dilma seria eleita.

O que guardo daquele dia de frio fronteiriço é uma impressão pessoal que já contei no livro ‘Todos querem ser Mujica’, de 2016. O uruguaio e Lula almoçaram e deixaram a reunião num quartel, onde assinaram os acordos e fizeram declarações protocolares, mas Lula saiu correndo e só Mujica ficou para conversar no pátio, em pé, com os jornalistas.

E aí eu fiquei sabendo, em poucos minutos, quem era, porque estava diante de mim, aquela figura que ficara em segundo plano como ministro de Tabaré Vázques no primeiro governo da Frente Ampla.

Já contei que esperava um ex-guerrilheiro rude, embrutecido pela luta clandestina e pelos 15 anos de prisão. E quem se apresentou ali, sem pressa, como se pedisse um mate e um banquinho para levar a conversa adiante, foi o Mujica que conseguia combinar retórica política com poesia e um certo lirismo.

Tive a felicidade de ver minha ignorância derrotada por um homem de 75 anos, de voz baixa, articulado, suavemente assertivo e delicado. E foi o que ficou dele para mim até hoje.

O resto já se sabe. Que Mujica não era, como pensava a extrema direita até agora, um perigoso tupamaro que um dia lutou pela democracia. Que era um mediador, quase um moderado dentro da Frente Ampla. E que foi até o fim um humanista grandioso.

Esse é o ano da preservação de memórias da resistência. Eu passo a me juntar a todos os que se dedicarão à preservação da memória desse uruguaio.

Perdemos o mais completo e lindamente poético ativista político da América Latina na luta contra as ditaduras. Devemos à geração de Mujica muito do que somos e temos hoje. Viva Mujica.

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